Contexto de Antigo Egito

O Antigo Egito foi uma civilização do Antigo Oriente Próximo do Norte de África, concentrada ao longo ao curso inferior do rio Nilo, no que é hoje o país moderno do Egito. Era parte de um complexo de civilizações, as civilizações do Vale do Nilo, do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente no Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália. Tinha como fronteiras o Mar Mediterrâneo, a norte, o Deserto da Líbia, a oeste, o Deserto Oriental Africano a leste e a primeira catarata do Nilo a sul. Foi umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade e manteve durante sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contactos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.

A civilização egípcia se aglutinou em torno de 3 100 a.C. com a unificação política do Alto e Baixo Egito, sob o primeiro faraó (Narme...Ler mais

O Antigo Egito foi uma civilização do Antigo Oriente Próximo do Norte de África, concentrada ao longo ao curso inferior do rio Nilo, no que é hoje o país moderno do Egito. Era parte de um complexo de civilizações, as civilizações do Vale do Nilo, do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente no Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália. Tinha como fronteiras o Mar Mediterrâneo, a norte, o Deserto da Líbia, a oeste, o Deserto Oriental Africano a leste e a primeira catarata do Nilo a sul. Foi umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade e manteve durante sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contactos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.

A civilização egípcia se aglutinou em torno de 3 100 a.C. com a unificação política do Alto e Baixo Egito, sob o primeiro faraó (Narmer), e se desenvolveu nos três milênios seguintes. Desenvolveu-se historicamente em três grandes reinos marcados pela estabilidade política, prosperidade económica e florescimento artístico, separados por períodos de relativa instabilidade conhecidos como Períodos Intermediários. Atingiu seu auge no Império Novo (ca. 1550–1069 a.C.), uma era cosmopolita na qual, graças às campanhas militares do faraó Tutemés III, o Egito dominou uma área que se estendia desde a Núbia, entre a quarta e quinta cataratas do Nilo, até o rio Eufrates, tendo entrado num lento declínio depois disso. O Egito foi dominado por uma sucessão de potências estrangeiras neste período final. O governo dos faraós terminou oficialmente em 30 a.C., quando o Egito caiu sob o domínio do Império Romano e se tornou uma província, após a derrota da faraó Cleópatra (r. 51–30 a.C.) na Batalha de Alexandria.

O sucesso egípcio deve-se em parte à sua capacidade de se adaptar às condições do vale do Nilo. A inundação previsível e a irrigação controlada do vale fértil produziam colheitas excedentárias, o que alimentou o desenvolvimento social e cultural. Com recursos excedentários, o governo patrocinou a exploração mineral do vale e regiões do deserto ao redor, o desenvolvimento de um sistema de escrita, a organização de construções coletivas e projetos de agricultura, comércio com vizinhos e guerras para derrotar inimigos estrangeiros e afirmar o domínio egípcio. Motivar e organizar estas atividades foi uma tarefa burocrática dos escribas de elite, dos líderes religiosos, e dos administradores sob o controle de um faraó que garantiu a cooperação e a unidade do povo egípcio, no âmbito de um elaborado sistema de crenças religiosas.

As muitas realizações dos antigos egípcios incluem o desenvolvimento de técnicas de extração mineira, topografia e construção que permitiram a edificação de monumentais pirâmides, templos e obeliscos; um sistema de matemática, um sistema prático e eficaz de medicina, sistemas de irrigação e técnicas de produção agrícola, os primeiros navios conhecidos, faiança e tecnologia com vidro, novas formas de literatura e o mais antigo tratado de paz conhecido, o chamado Tratado de Cadexe. O Egito deixou um legado duradouro. Sua arte e arquitetura foram muito copiadas e suas antiguidades levadas a várias partes do globo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação de viajantes e escritores por séculos e o fascínio por antiguidades e escavações no início do Idade Contemporânea esteve na origem da investigação científica desta civilização e levou à maior valorização do seu legado cultural.

Mais sobre Antigo Egito

Histórico
  •  Ver artigos principais: História do Antigo Egito e Pré-História do Egito

    No final do Paleolítico, o clima árido do Norte da África tornou-se cada vez mais quente e seco, forçando as populações da área a se concentrarem junto ao vale do Nilo, cuja fertilidade assegura sustento ao Egito desde o tempo dos caçadores e coletores nômades do Pleistoceno Médio (ca....Ler mais

     Ver artigos principais: História do Antigo Egito e Pré-História do Egito

    No final do Paleolítico, o clima árido do Norte da África tornou-se cada vez mais quente e seco, forçando as populações da área a se concentrarem junto ao vale do Nilo, cuja fertilidade assegura sustento ao Egito desde o tempo dos caçadores e coletores nômades do Pleistoceno Médio (ca. 780-120 mil anos atrás) até hoje.[1] Sua planície fértil deu aos homens a oportunidade de desenvolver uma economia agrícola sedentária e sociedade mais sofisticada e centralizada que tornar-se-ia marco na história da civilização humana.[2]

    Período pré-dinástico (5500–3100 a.C.)
     Ver artigo principal: Período pré-dinástico do Egito
     
    Faca Pitt-Rivers. Museu Britânico, Londres
     
    Paleta dos caçadores, Museu Britânico
     
    Modelo de barco em argila de Guebeleim. Museu Histórico de Berna, Berna

    Nos períodos pré-dinástico e dinástico, o clima do Egito, e do Saara como um todo, sofreu repentinas variações que causaram períodos de extrema seca e desertificação e períodos de clima favorável e úmido: em fases úmidas o Saara era dominado por savana rica em fauna (aves e mamíferos) e flora.[3][4] A caça era muito importante entre os egípcios, pois fornecia carne.[5] Os primeiros sinais de domesticação animal são do Deserto Ocidental e datam de 8 800-6 800 a.C.: eram criados com base no modelo de pastoreio africano, no qual fornecem leite e sangue, mas não carne.[6] Cerca de 5 500 a.C., pequenos grupos que viviam no vale evoluíram para aglomerados culturais complexos caracterizados por amplo domínio da agricultura (os vestígios mais antigos desta foram achados em Faium[7]), pecuária, manufatura de objetos e cerâmica e um primitivo comércio: Faium (5 400-4 400 a.C.) desenvolveu pleno domínio em tecelagem;[8][9] Merinde (5 000-4 100 a.C.) construiu os primeiros túmulos egípcios conhecidos, situados no interior do sítio, e talvez desenvolveu práticas rituais;[10][11][12] Omari (4 600-4 400 a.C.) fez os mais antigos artefatos em cobre do Egito;[13] e Badari (4 400-4 000 a.C.) produziu os primeiros exemplos de faiança e vidro à base de esteatita.[14][15][16]

    Maadi-Buto (3 800-3 200 a.C.) produziu os primeiros cemitérios bem definidos[17] e intensificou o comércio: importava produtos do Oriente Próximo (madeira de cedro,[18] nódulos de sílex, cerâmica, ferramentas líticas, resinas, óleos, vinho, cobre, basalto), Alto Egito (pentes, cerâmica, marfim, paletas cosméticas, cabeças de clava) e Deserto Oriental (malaquita, manganês, pérolas, conchas, cornalina); e exportava cerâmica, conchas e cereais para o Oriente, cobre, basalto e sílex para o Alto Egito.[19] Sítios como Saís e Buto tornaram-se centros de propagação cultural.[20] Nacada (4 000-3 000 a.C.) foi caracterizada pelo surgimento de elites regionais mercantis centradas em grandes centros de poder (Nacada, Hieracômpolis, Guebeleim, Abadia, Abidos) que evoluíram para Estados regionais belicosos que disputaram o poder, terras mais férteis e controle das rotas comerciais.[21][22] [23] Possivelmente estes Estados delinearam a divisão administrativa egípcia conhecida como nomos.[24][25][26] Nos 1 000 anos de existência da cultura, suas cidades variaram em tamanho e poder: em Nacada I (4 000-3 500 a.C.) a maior era Nacada; em Nacada II (3 500-3 200 a.C.) era Hieracômpolis; em Nacada III (3 200-3 000 a.C.) eram Abidos e Tinis.[27][28][29][30][31] Tinham seus cemitérios, onde as elites eram sepultadas com rico espólio.[32][33][34] No fim de Nacada II e em Nacada III há as primeiras evidências de chefes regionais e, depois, os primeiros faraós.[7][35]

     
    Ginger, uma das múmias de Guebeleim (3 400 a.C.). Museu Britânico
     
    Paleta dos Urubus, Museu Britânico

    Nacada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do crescente poder e riqueza da elite: vasos (em basalto, marfim, cobre, osso e cerâmica), adornos pessoais (em osso, lápis-lazúli, conchas, faiança, madeira, ouro, prata e cobre), paletas antropo e zoomórficas (em grauvaque e ardósia), esteatita vítrea, figurinhas zoo e antropomórficas (em terracota e marfim), cabeças de clava discoides e depois peroides;[32][36] e esferas de ferro meteorítico, o mais antigo uso de ferro no mundo;[37][38][39] em Nacada I, há os primeiros exemplos de habitações feitas com tijolos.[40][41][42][43] Durante Nacada, há transformações socioeconômicas importantes: intensa importação (obsidiana, cobre, vasos, lápis-lazúli, marfim, ébano, incenso, pele de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas) e exportação (alabastro, contas de ouro, faiança, lâminas, amuletos de "cabeças bovídeas");[44][45][34][46][47] aparecimento de costumes religiosos (uso de estelas e sarcófagos) e alguns deuses do panteão (Hórus, Bate, Seti, Necbete e Mim);[48] os hieróglifos (quiçá com base na escrita mesopotâmica[49]);[50][51] arte e iconografia, ambas representadas em paletas;[52] acentuada elevação da produção agrícola devido maior número de áreas cultivadas e melhoria das habilidades empregadas.[53] Muitos sítios deltaicos dedicaram-se só ao comércio com o Oriente, enquanto nômades do Deserto Oriental, porventura devido à degradação das condições ambientais locais, foram ativos mediadores do comércio.[54][55]

    Um termo contextual (dinastia 0) é usado para agrupar os reis conhecidos de Nacada IIIb-IIIc, embora não formaram uma dinastia;[35] apesar de não totalmente aceito, o termo dinastia 00 por vezes é usado para distinguir reis atestados entre Nacada IIc- IIIa2. [a][7] Até Nacada IIIa2, há em Nacada (Cemitério T), Guebeleim, Abidos (Cemitério U), Hieracômpolis (T100 e 11), Custul (L24) e Seiala (137.1) túmulos quiçá atribuíveis a chefes locais que emergiam do seio das famílias da elite.[56] Cerâmicas incisas, paletas (sobretudo a Paleta Líbia) e um grafite nos Colossos de Copto forneceram os nomes de possíveis reis locais que reinaram até a ascensão dos reis tinitas: Órix, Concha, Peixe, Elefante, Touro, Boi I (?) Cegonha, Canídeo, Boi II, Escorpião I, Falcão I, Mim + planta [...] Falcão II, Leão, Falcão Duplo (e sereques no Sinai e delta) [...] Iri-Hor, Cá, Escorpião II, Narmer; talvez houve dois Touros, o dos colossos (Touro I) e outro da Paleta do Touro (Touro II);[57] Escorpião I, cuja tumba (U-j, Abidos) tinha muitos bens e os primeiros hieróglifos sabidos, foi associado ao grafite de Guebel Tjauti, no deserto entre Abidos e Nacada, que exibe possível vitória sobre outro rei.[58] Há também outros achados com sereques: Hate-Hor (túmulo 1702 em Tarcã), Ni-Hor (Tora e Tarcã), Hedju-Hor (delta Oriental e Tora) e Crocodilo (túmulos 315, 414 e 1549 de Tarcã), que acaso foi usurpador no tempo de Narmer.[59] Alguns dos primeiros faraós tiveram seus jazigos detectados: Iri-Hor (túmulo B1-B2, Abidos), Cá (túmulo B7-B9, Abidos), Escorpião II (quem sabe 4ª camada do túmulo B50 em Abidos ou túmulo 1 do local 6 em Hieracômpolis) e Narmer (túmulo B17-B18, Abidos).[60]

    Época Tinita (3100–2686 a.C.)
     
    Duas faces da Paleta de Narmer. Nela há a suposta unificação do Egito[61]
     
    Placa de marfim de Abidos de Usafedo abatendo um inimigo do Oriente. Museu Britânico
     Ver artigo principal: Época Tinita

    No século III a.C., o sacerdote Manetão estabeleceu uma cronologia dos faraós desde Menés aos seus contemporâneos, agrupando-os em 30 dinastias, um sistema ainda em uso atualmente.[62] Escolheu para começar a sua história oficial Menés, que se acredita ter unificado os reinos do Alto e Baixo Egito (c.3 100 a.C.).[63][64] Na realidade, a transição para um Estado unificado ocorreu de forma mais gradual do que os escritores egípcios relatam, e não há registro coetâneo de Menés. Alguns académicos acreditam que Menés pode ter sido Narmer, que aparece vestindo trajes reais na cerimonial Paleta de Narmer em ato simbólico de unificação,[65] ou Atótis, cujo nome de Nebti (Mem) pode ter inspirado o nome grego.[66] Seja como for, por ainda não ser totalmente compreendido, o episódio de unificação e formação do Egito foi explicado de várias formas: a formação de Mênfis (adquiriu importância como centro comercial, administrativo e cultural[67][68]); dominação gradual (mesopotâmica,[69][70][71] núbia, deltaica ou alto egípcia[72]); integração regional (alianças, guerras e trocas culturais[73][43][74]); comércio (explicaria o abandono de alguns sítios deltaicos em detrimento de outros[75] [76][77][78]); pressão populacional (do sul ao norte[79][80]); uniformidade religiosa.[81]

    Na Época Tinita, que compreendeu a I e II dinastias, o Egito era governado a partir de Tinis, que nesse momento eclipsou politicamente Abidos, cuja função a partir de então seria apenas religiosa e mortuária.[82][83][84] Sob Atótis, filho de Narmer, campanhas foram feitas para subjugar rebeldes na Núbia e um famoso templo dedicado a Neite foi fundado em Saís. Contudo, talvez a maior realização destes faraós foi a fundação de Mênfis, atribuída por Heródoto a Menés,[b] e que tornar-se-ia capital do Egito a partir da III dinastia.[85] Dentre os sucessores imediatos de Atótis, reinou Merneite, filha de Quenquenés, que atuou como regente de Usafedo. Sob Quenquenés e Usafedo, novas campanhas foram feitas; o primeiro representou-as como expedições navais, enquanto o segundo aparece atacando trogloditas no Oriente.[86] Miebido, sucessor de Usafedo, enfrentou disputa dinástica em seu reinado, que terminou com a sucessão do usurpador Semempsés, que ordenou que seu nome fosse apagado das inscrições, mas ele próprio foi vítima do mesmo destino ao ser omitido da lista de Sacará.[87] Sob Queco, foram instituídos os cultos da cabra de Mendes e dos touros Mnévis de Heliópolis e Ápis de Mênfis, e Binótris fez campanhas e aceitou a sucessão feminina.[88] Sob os últimos faraós da II dinastia, cuja identidade é debatida, o conflito norte-sul piorou e as fontes citam a expedição nortenha que chegou na cidade de Nequebe, centro de culto de Necbete situado perto de Hieracômpolis, que foi combatida e deixou dezenas de milhares de nortenhos mortos. A paz foi alcançada e cimentada com o casamento do faraó com uma princesa do Baixo Egito.[89]

    O crescente poder e riqueza dos faraós se refletiu em suas mastabas elaboradas e em estruturas de culto mortuário em Abidos, usadas para celebrar o faraó endeusado após a morte.[90] E a forte instituição da realeza serviu para legitimar o controle estatal sobre a terra, trabalho e recursos que foram essencialmente à sobrevivência e o crescimento da civilização.[91]

    Império Antigo (2686–2160 a.C.)
     Ver artigo principal: Império Antigo
     
    Estatueta em marfim de Quéops (r. 2589–2566 a.C.). Museu Egípcio do Cairo

    No Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas do Sinai e Mar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios. Concomitantemente, o comércio com o Oriente Próximo (Líbano, Palestina, Mesopotâmia) e o Punte intensificou-se e, juntamente com os sucessos militares, possibilitou ao Egito fundar acampamentos estratégicos e uma frota marítima, assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro, mirra, malaquita e eletro.[92]

    Durante o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia.[93] Sob a direção do tjati (vizir), funcionários do Estado arrecadavam impostos, coordenavam projetos de irrigação para melhorar o rendimento das culturas, recrutavam camponeses para trabalhar em projetos de construção e estabeleceram um sistema de justiça que assegurava a manutenção da ordem e da paz.[94] Com os excedentes dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e a excepcional comissão de obras de arte às oficinas reais.[95]

    A par da crescente importância da administração central, surgiu uma nova classe de escribas e oficiais letrados que receberam propriedades do faraó como pagamento pelos seus serviços.[92] Os faraós também fizeram concessões de terras para seus cultos funerários e templos locais, de forma a garantir que estas instituições teriam recursos necessários à adoração do faraó após a sua morte. Acredita-se que cinco séculos de práticas feudais corroeram lentamente o poder econômico do faraó, e que a economia deixou de conseguir sustentar uma grande administração central.[96] Com a diminuição do poder do faraó, governantes regionais designados nomarcas começaram a desafiar a supremacia do faraó.[92] Isso, em conjunto com um período de secas extremas entre 2 200-2 150 a.C.,[97] é apontado como causa da transição para um período de 140 anos de fome e conflitos conhecido por Primeiro Período Intermediário.[98]

    Primeiro Período Intermediário (2160–2055 a.C.)
     Ver artigo principal: Primeiro Período Intermediário
     
    Estátua em diorito de Quéfren (r. 2558–2532 a.C.). Museu Egípcio do Cairo

    Depois do colapso do governo central do Egito no final do Império Antigo, o governo não conseguiu sustentar ou estabilizar a economia do país. Os governadores regionais não podiam contar com o faraó para apoio em épocas de crise, e a consequente escassez de bens e disputas políticas agravaram-se para situações de fome e guerras civis de pequena escala. No entanto, apesar dos problemas, os líderes locais que já não deviam o tributo ao faraó, usaram esta independência para estabelecer uma cultura próspera nas províncias. Uma vez que dominavam os seus próprios recursos, as províncias desenvolveram-se economicamente, fato demonstrado por maiores e melhores atos fúnebres entre todas as classes sociais.[99] Verificaram-se surtos de criatividade, com os artesãos das províncias a adotarem e adaptarem motivos culturais antes restritos à realeza do Império Antigo, e os escribas desenvolveram estilos literários que expressam o otimismo e a originalidade do período.[100]

    Livres da fidelidade ao faraó, os governantes locais começaram a competir entre si pelo controle territorial e poder político. Por volta de 2 160 a.C., os governantes de Heracleópolis controlavam o Baixo Egito, enquanto um clã rival, baseado em Tebas, a família Intefe, assumiu a posse do Alto Egito. À medida que os Intefes cresceram em poder e se expandiram para norte, um confronto entre as duas dinastias rivais tornou-se inevitável. Cerca de 2 055 a.C., as forças de Tebas sob o comando de Mentuotepe II derrotaram finalmente os governantes de Heracleópolis, reunindo as Duas Terras e dando origem a um período de renascimento econômico e cultural conhecido como o Império Médio.[101]

    Império Médio (2055–1650 a.C.)
     Ver artigo principal: Império Médio
     
    Estátua de Mentuotepe II

    Os faraós do Império Médio restituíram a prosperidade e estabilidade do país, situação que estimulou um renascimento da arte, literatura e projetos de construção monumental.[102] Mentuotepe II e seus sucessores da XI dinastia governaram a partir de Tebas, mas o vizir Amenemés I, ao assumir o trono que deu início início à XII dinastia por volta de 1 985 a.C., mudou a capital do país à cidade de Iti-Taui, localizada em Faium.[103] De Iti-Taui, os faraós da XII dinastia comprometeram-se a realizar uma recuperação de áreas degradadas e melhorar o sistema de irrigação para aumentar a produção agrícola no país. Além disso, deu-se a conquista militar de toda a Núbia, rica em pedreiras e minas de ouro, enquanto trabalhadores construíram uma estrutura defensiva no Delta Oriental, chamada "Muros-do-Rei", para defesa do Egito contra ataques exteriores.[104]

    Tendo sido garantida a segurança militar e política, e na presença de uma vasta riqueza agrícola e mineira, a população, a arte e a religião prosperaram significativamente. Em contraste com a atitude elitista do Império Antigo para com os deuses, no Império Médio assistiu-se a um aumento nas manifestações de devoção pessoal, e àquilo que pode ser designado por democratização da vida no além, na qual todas as pessoas possuem uma alma e podem ser recebidas na companhia dos deuses.[105] A literatura do Império Médio abordava temas eruditos e personagens complexos, narrados num estilo confiante e eloquente.[100] A escultura capturou detalhes subtis e distintos que atingiram um novo patamar de perfeição técnica;[106] os líderes retomam o costume de erigirem pirâmides.[107]

     
    Cabeça de esfinge de Amenemés III em alabastro (Museu do Louvre)

    No Império Médio, como forma de garantir a sucessão, os faraós ainda em vida dividiram o trono com seu sucessores, mantendo-os como co-faraós.[108] O último grande governante do Império Médio, Amenemés III, permitiu que colonos asiáticos se instalassem na região do Delta de modo a ter disponível força de trabalho suficiente às suas particularmente ativas campanhas de construção e mineração. Estas ambiciosas campanhas, porém, em conjunto com cheias inadequadas do Nilo no seu reinado, fragilizaram a economia e precipitaram um lento declínio no Segundo Período Intermediário durante as posteriores XIII e XIV dinastias. Durante esse declínio, os colonos asiáticos começaram a assumir o controle da região do Delta, acabando por alcançar o poder no Egito, como foi o caso dos hicsos.[109]

    Segundo Período Intermediário (1650–1550 a.C.)
     
    Mapa do Antigo Egito, mostrando grandes cidades e sítios (ca. 3100–30 a.C.)
     Ver artigo principal: Segundo Período Intermediário

    Por volta de 1 785 a.C., com o poder dos faraós do Império Médio enfraquecido, os imigrantes asiáticos residentes na cidade de Ávaris assumiram o controle da região e forçaram o governo central a se retirar para Tebas, onde o faraó era tratado como um vassalo e era obrigado a pagar tributo.[110] Os hicsos (Heka-khasut, governantes estrangeiros) imitaram o modelo de governo egípcio e se apresentaram como faraós, integrando elementos egípcios na sua cultura da Idade do Bronze Médio.[111] Introduziram também elementos novos como o cavalo, os carros de guerra, novos métodos de fiação e tecelagem e novos instrumentos musicais.[108]

    Depois da retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os aliados núbios dos hicsos, os cuxitas, no sul. Após anos de inatividade, Tebas reuniu força suficiente para desafiar os hicsos em um conflito que duraria mais de 30 anos, até 1 555 a.C.[110] Os faraós Taá II e Camés acabaram por derrotar os núbios, mas foi o sucessor de Camés, Amósis I, que empreendeu com sucesso uma série de campanhas que permanentemente erradicaram os hicsos no Egito. No Império Novo que se seguiu, o poder militar se tornou uma prioridade central para os faraós, que procuraram expandir as fronteiras do Egito e garantir o domínio completo do Oriente Próximo.[112]

    Império Novo (1550–1069 a.C.)
     Ver artigo principal: Império Novo

    Os faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando de Tutemés I e seu neto Tutemés III, alargaram a influência dos faraós para o maior império que o Egito já havia visto.[113] Quando Tutemés morreu em 1 425 a.C., o Egito prolongava-se desde Nia no norte da Síria até à quarta catarata do Nilo, na Núbia, cimentando fidelidades e abrindo caminho para importações essenciais como bronze e madeira.[114] Os faraós do Império Novo iniciaram uma campanha de construção em grande escala para promover o deus Amom, com culto assente em Carnaque.[108] Também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A faraó Hatexepsute usou tais meios como propaganda para legitimar sua pretensão ao trono.[115] Seu reinado bem sucedido foi marcado por expedições comerciais a Punte, um elegante templo mortuário, um par de obeliscos colossais e uma Capela em Carnaque. Apesar de suas realizações, o sobrinho e enteado de Hatexepsute, Tutemés III tentou fazer desaparecer o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela usurpação do seu trono.[116]

     
    As quatro estátuas colossais de Ramessés II na entrada do templo de Abul-Simbel

    Sob Tutemés IV (1 397−1 388 a.C.) o Egito realizou uma aliança com Mitani para empreender ataques contra o Império Hitita. Com Amenófis III foram edificados os templos de Luxor, o palácio de Malcata e o Templo de Milhões de Anos, do qual atualmente só restam os conhecidos "Colossos de Memnon", além do templo de Amom em Carnaque ter sido ampliado.[117] Durante seu reinado, colheitas férteis e excedentes, permitiram a Amenófis III assegurar relações com os reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por meio de acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais. Cerca de 1 350 a.C., a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quando Amenófis IV subiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o seu nome para Aquenáton (O Esplendor de Aton), decretou como a divindade suprema o até aí obscuro deus Sol Atom, suprimindo o culto de outras divindades e atacando o poder religioso instalado.[118] Mudando a capital à nova cidade de Aquetáton (Horizonte de Atom, atual Amarna), Aquenáton tornou-se desatento aos negócios estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Atom e pela sua personalidade de artista e pacifista.[113] Durante seu reinado as relações comerciais com o Mar Egeu (minoicos e micênios) são cortadas e os hititas começam a fazer perigar a soberania egípcia na Síria.[119] Após sua morte, o culto de Atom foi rapidamente abandonado, e os faraós Tutancâmon, Aí e Horemebe apagaram todas as referências à heresia de Aquenáton, agora conhecida como Período de Amarna.[120]

     
    Fragmentos do tratado de paz entre os egípcios e hititas

    Sob Seti I, o Egito controlou revoltas e conquistou a cidade de Cadexe e a região vizinha de Amurru, ambas localidades palestinianas. Ramessés II ascendeu ao trono por volta de 1 279 a.C., prosseguindo a construção de um número significativo de templos, estátuas e obeliscos; foi o faraó com a maior quantidade de filhos da história (110 filhos).[121] Transferiu a capital do império de Tebas para Pi-Ramessés no Delta Oriental. Ousado líder militar, comandou seu exército contra os hititas na Batalha de Cadexe em 1 274 a.C. e depois de um impasse, assinou em 1 258 a.C.[122] o primeiro tratado de paz conhecido da história, o Tratado de Cadexe, onde ambas as nações comprometiam-se a se ajudar mutuamente contra inimigos internos ou externos.[123][113] O tratado foi selado com o casamento de Ramessés II e a filha mais velha do imperador Hatusil III.[124]

    A riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial de líbios e dos chamados povos do mar. No reinado de Merneptá ambos os povos se aliaram com o objetivo de atacar o Egito, incitando também os núbios à revolta. Com a sequente derrota dos invasores, os revoltosos acabariam por ser suplantados. Durante o reinado de Ramessés III o faraó conseguiu expulsar os povos do mar para fora do Egito em duas grandes batalhas, no entanto, eles acabariam por assentar na costa palestina e durante o reinado de seus sucessores tomariam por completo a região. Entretanto é importante lembrar que o Egito não estava enfrentando apenas problemas externos. Após a morte de Ramessés II e a subida ao trono de seu filho Merneptá, a instabilidade política assolou o Egito.[113] Diversos golpes de Estado depuseram muitos faraós em pouco tempo e diversos distúrbios civis, corrupção, revoltas de trabalhadores e roubos de túmulos contribuíram à instabilidade interna. Como forma de ganhar popularidade, durante o início da XX dinastia foram concedidas terras, tesouros e escravos para os sacerdotes dos templos de Amom, o que fortaleceu o poder destes,[125] e esse poder crescente fragmentou o país durante o Terceiro Período Intermediário.[126]

    Terceiro Período Intermediário (1069–664 a.C.)
     Ver artigo principal: Terceiro Período Intermediário
     
    Por volta de 730 a.C., líbios vindos do oeste fragmentaram a unidade política do país

    Após a morte de Ramessés XI em 1 069 a.C., Esmendes assumiu a autoridade sobre a parte norte do Egito governando a partir da cidade de Tânis. O sul foi de facto controlado pelos sumos sacerdotes de Amom em Tebas, que reconheciam Esmendes apenas formalmente.[127] O sacerdote Pianque conseguiu deter a expansão do Reino de Cuxe que havia dominado boa parte do Alto Egito.[128]

    Na mesma época, os líbios tinham se instalado no Delta Ocidental, e os líderes destes colonos começaram a ganhar autonomia. Os príncipes líbios assumiram o controle do delta no reinado de Sisaque I em 945 a.C., fundando a dinastia chamada Líbia ou Bubastilas, que governaria por cerca de 200 anos. Sisaque também ganhou o controle do sul do Egito, ao colocar os seus familiares em importantes cargos sacerdotais. Invadiu a Palestina durante o reinado do rei Roboão e restaurou o comércio com Biblos, aumentando a prosperidade da dinastia.[128]

    Sob Osocor II, o Egito auxiliando os reinos sírio-palestinos repudiou as primeiras expedições assírias. As muitas guerras civis que se seguiram causaram a divisão do Egito em várias dinastias. O poder líbio entrou em declínio à medida que duas dinastias rivais surgiram, uma centrada em Leontópolis (XXIII dinastia) e outra em Saís (XXIV dinastia). No entanto, a constante ameaça cuxita do sul forçou a união das três dinastias com vista à sua defesa. Por volta de 727 a.C., o rei cuxita Piiê derrotou um exército de oito mil soldados egípcios, invadiu o norte, tomou o controle de Tebas e do Delta, e formou a XXV dinastia.[128][129]

    O prestígio secular do Egito diminuiu consideravelmente durante o final do Terceiro Período Intermediário. Os seus aliados estrangeiros ficaram sob a esfera de influência assíria, e em 700 a.C. a guerra entre os dois estados tornou-se inevitável. Xabataca empreendeu uma batalha contra os assírios da qual sairia vitorioso. Seu sucessor, Taraca, incentivou revoltas na Palestina assíria, tendo conseguido expulsar os assírios das imediações em 673 a.C.[128] No entanto, entre 671 e 667 a.C., os assírios iniciaram ataques contra o Egito. Os reinados dos reis cuxitas Taraca e do seu sucessor Tantamani foram marcados por conflitos constantes com os assírios, contra os quais os governantes núbios obtiveram várias vitórias.[130] Por fim, os assírios empurraram os cuxitas à Núbia, ocupando Mênfis e saquearam os templos de Tebas.[131]

    Época Baixa (664–332 a.C.)
     Ver artigo principal: Época Baixa
     
    Estátua de um dignitário egípcio do período saíta

    Sem planos definitivos de ocupação, os assírios delegaram a administração do Egito numa série de vassalos que se tornariam conhecidos como reis saítas da XXVI dinastia. Por volta de 653 a.C., o rei Psamético I logrou expulsar os assírios com ajuda de mercenários gregos. A influência grega expandiu-se significativamente à medida que os gregos se concentraram na cidade de Náucratis, no Delta. A partir da nova capital em Saís, os reis saítas, testemunharam um breve, mas significativo ressurgimento da economia e cultura, mas em 525 a.C., os poderosos persas aquemênidas, liderados por Cambises II, iniciaram uma campanha de conquista do Egito, tendo acabado por capturar o faraó Psamético III na Batalha de Pelusa.[132] Em seguida Cambises II assumiu o título formal de faraó, governando o Egito a partir de Susa, deixando a região sob a administração de um sátrapa. Algumas revoltas bem sucedidas contra os persas marcaram o Egito no século V a.C., mas nunca foram capazes de os derrubar de forma definitiva.[133]

    Após a sua anexação pelo Império Aquemênida, o Egito seria aglomerado com o Chipre e com a Fenícia, na sexta satrapia dos persas aquemênidas. Este primeiro período de domínio persa sobre o Egito, também conhecido como XXVII dinastia, terminou em 402 a.C.. De 380 a 343 a.C., a XXX dinastia governou como última casa real nativa do Egito dinástico, que terminaria com o reinado de Nectanebo II. Uma breve restauração do domínio persa, por vezes designada como XXXI dinastia, teve início em 343 a.C., mas pouco depois, em 332 a.C., o sátrapa persa Mazaces entregou sem grande resistência o Egito a Alexandre, o Grande.[134]

    Reino Ptolomaico (332–30 a.C.)
     Ver artigos principais: Dinastia ptolomaica e Reino Ptolomaico
     
    Busto do faraó Ptolemeu I

    Em 332 a.C., Alexandre Magno conquistou o Egito com pouca resistência dos persas e foi recebido pelos egípcios como um libertador. A administração estabelecida pelos sucessores de Alexandre, os Ptolomeus, foi baseada no modelo egípcio e a capital estabelecida na recém-erguida cidade de Alexandria.[135] A cidade era uma montra do poder e prestígio do governo grego, e tornar-se-ia um polo de cultura e ensino, centrados na famosa Biblioteca de Alexandria.[136] O Farol de Alexandria iluminou o caminho para os muitos navios que mantinham vivo o comércio com o exterior, uma vez que a economia, assente em empresas de grande retorno económico, era a mais alta prioridade dos Ptolomeus.[137]

    A cultura grega não pretendeu impor-se à cultura nativa, tendo os Ptolomeus apoiado tradições seculares de forma a garantir a lealdade da população. Foram construídos novos templos em estilo egípcio, apoiadas as formas de culto tradicionais, e os governantes retratavam-se a si mesmo como faraós.[135]

    Algumas tradições de ambas as culturas foram fundidas, como deuses gregos e egípcios sincretizados em divindades híbridas, como Serápis, e formas clássicas da escultura grega influenciaram motivos tradicionais egípcios. Apesar dos seus esforços para apaziguar os egípcios, os Ptolomeus foram contestados por rebeliões locais, rivalidades entre famílias e pela poderosa máfia de Alexandria, formada depois da morte de Ptolemeu IV.[138]

    Além disso, à medida que Roma dependia cada vez mais de importações de cereais do Egito, os romanos começaram a demonstrar grande interesse na situação política da região. Revoltas constantes, políticos ambiciosos e poderosos oponentes sírios contribuíram à instabilidade da região, levando Roma ao envio de tropas com o objectivo de assegurar o país como província do seu império.[139]

    Domínio romano-bizantino (30 a.C.–639 d.C.)
     Ver artigos principais: Egito romano, Prefeito do Egito e Diocese do Egito
     
    Os retratos de Faium foram uma das tentativas de unir as culturas egípcia e romana

    O Egito tornou-se uma província romana em 30 a.C., após a derrota de Marco Antônio e da faraó Cleópatra por Otaviano (posteriormente Imperador Augusto) na Batalha de Áccio e então Batalha de Alexandria.[140][135] Os romanos dependiam fortemente das remessas de cereais do Egito, e o exército romano, sob o comando de um prefeito nomeado pelo imperador, reprimiu revoltas, fez aplicar a cobrança de impostos, e impediu os ataques de salteadores, que se tinham tornado um problema significativo durante este período.[141] Alexandria torna-se um centro cada vez mais importante na rota de comércio com o Oriente, uma vez que em Roma havia grande procura de mercadorias e bens exóticos e de luxo.[142]

    Embora os romanos tivessem uma atitude mais hostil do que os gregos para com os egípcios, algumas tradições foram mantidas, como a mumificação e o culto dos deuses tradicionais. A arte de retratar as múmias floresceu e alguns dos imperadores romanos se fizeram retratar como faraós, embora não na medida dos Ptolomeus, já que os primeiros moravam fora do Egito e não desempenharam funções cerimoniais da realeza. A administração local tornou-se romana o que tendeu a minar a liberdade dos nativos egípcios.[143]

    A partir de meados do século I d.C., o cristianismo se enraizou em Alexandria, sendo visto e aceito como outro culto. No entanto, o fato de ser uma religião inflexível e proselitista, que procurava converter pessoas do paganismo, ameaçando com isso as tradições religiosas populares, levou à perseguição dos convertidos ao cristianismo, que culminou com o grande expurgo de Diocleciano a partir de 303. Apesar disso, o cristianismo acabou por triunfar.[144] Em 391 o imperador cristão Teodósio I introduziu uma legislação que proibiu ritos pagãos e os templos foram fechados.[145] Alexandria tornou-se palco de grandes protestos antipagãos, com imagens públicas e privadas destruídas.[146] Como consequência, a cultura do Egito pagão entrou em declínio. Templos eram por vezes convertidos em igrejas ou abandonados e apesar da população nativa continuar a usar a sua língua, a capacidade de ler e escrever hieróglifos acabou por retroceder na medida em que o papel dos sacerdotes tornou-se exímio.[147] Outrossim, os escribas, os únicos capazes de ler os hieróglifos, durante seus estudos da escrita hieroglífica, podiam optar entre o trabalho burocrático ou o sacerdócio. Neste ponto histórico os serviços burocráticos não mais convinham aos mesmos e, concomitantemente, com o declínio do sistema religioso egípcio, os escribas paulatinamente deixaram de existir o que inviabilizou a leitura dos hieróglifos.[95]

    No século IV d.C. o Império Romano dividiu-se em duas partes e o Egito se incorporou ao Império Oriental, conhecido como o Império Bizantino. O Império do Oriente tornou-se cada vez mais "oriental" em grande estilo e suas antigas ligações com o mundo greco-romano começam a se desvanecer. O sistema grego de governos locais por cidadãos já tinha desaparecido completamente. Em 616, em meio a guerra bizantino-sassânida de 602-628, o xá sassânida Cosroes II (r. 590–628) conquistou o Egito, cujo controle seria retomado pelos bizantinos em 628 sob o imperador Heráclio (r. 610–641) com o fim do conflito.[148]

    Conquista árabe (639–646)
     Ver artigo principal: Invasão muçulmana do Egito
     
    Mapa detalhando a rota dos invasores muçulmanos do Egito

    Em 639, Anre ibne Alas, um general árabe, à frente de um exército de 4 000 homens ataca o Egito bizantino durante o expansionismo árabe do século VII. Inicialmente toma Mênfis e toma o controle das principais rotas de comunicação terrestre, o que lhe abre caminho à capital da província, Alexandria. Após tais vitórias, seu exército recebe reforços de soldados que se interessaram pelo butim, alcançando cerca de 20 000 homens. Anre estabeleceu seu acampamento nas imediações da cidade de Heliópolis (local onde posteriormente seria fundada a cidade do Cairo) de onde pode enviar suas tropas de assédio à cidade. Em 640, sitia Alexandria. A cidade é defendida por uma força de cerca de 50 000 homens, no entanto, em 642 a força bizantina rende-se, abandonando seus postos e permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos reocupam a cidade em 645, no entanto, são novamente repelidos em 646.[149]

    Após a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe começou a materializar-se, tendo durado até ao século IX. Os árabes impuseram um imposto especial aos egípcios cristãos, o jizia.[150] No século VII d.C. os árabes começam a empregar o termo quft para descrever o povo do Egito. Desta forma os egípcios passaram a ser conhecidos como coptas, e a Igreja Egípcia Não-Calcedônia tornou-se a Igreja Copta. Nos séculos seguintes, de forma gradual, os habitantes do Egito foram arabizados e islamizados, de modo que a identidade nativa e a língua egípcia sobreviveram apenas entre os coptas, que falavam a língua copta, uma descendente direta do egípcio demótico falado na época romana.[151]

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