Zamora

( Samora (Espanha) )

Samora (em castelhano: Zamora, forma também com uso em português; pronúncia espanhola: [θaˈmoɾa]; também grafada em asturo-leonês como Zamora ou Çamora) é um município e cidade espanhola situada na província homónima, pertencente à comunidade autónoma de Castela e Leão. Tem 149,28 km² de área e em 2021 tinha 60 297 habitantes (densidade: 403,9 hab./km²).

O casco histórico da cidade é classificado como conjunto histórico-artístico desde 1973. O seu núcleo principal – com uma disposição muito alargada e rodeada na sua maioria por muralhas – alça-se sobre uma ampla planície rochosa de 26 a 32 metros de altura, situada à beira do rio Douro, que limita com a cidade a sul. Estas características levaram a que fosse alcunhada de «a bem cercada».

A cidade é integrada por um importante conjunto de edifícios r...Ler mais

Samora (em castelhano: Zamora, forma também com uso em português; pronúncia espanhola: [θaˈmoɾa]; também grafada em asturo-leonês como Zamora ou Çamora) é um município e cidade espanhola situada na província homónima, pertencente à comunidade autónoma de Castela e Leão. Tem 149,28 km² de área e em 2021 tinha 60 297 habitantes (densidade: 403,9 hab./km²).

O casco histórico da cidade é classificado como conjunto histórico-artístico desde 1973. O seu núcleo principal – com uma disposição muito alargada e rodeada na sua maioria por muralhas – alça-se sobre uma ampla planície rochosa de 26 a 32 metros de altura, situada à beira do rio Douro, que limita com a cidade a sul. Estas características levaram a que fosse alcunhada de «a bem cercada».

A cidade é integrada por um importante conjunto de edifícios românicos, formado pelos 23 templos do município e pelas 14 igrejas do casco histórico, a que possui o maior número e qualidade de templos românicos em toda a Europa; quinze deles considerados Bem de Interesse Cultural. A este espólio arquitetónico juntam-se a sua catedral, outras 24 igrejas, um castelo, muralhas, uma ponte, dois palácios e nove casas, daí que seja conhecida como «a cidade do românico». Por outro lado, é também significativo o conjunto de edifícios modernistas – 19 no total – apenas equiparado por Teruel em todo o interior espanhol. As celebrações da Semana Santa na cidade foram declaradas de Interesse Turístico Internacional e Bem de Interesse Cultural.

Samora é o lar de diversas instituições autonómicas e internacionais, entre elas o Museu Etnográfico e o Conselho Consultivo de Castela e Leão, e a fundação de cooperação transfronteiriça Rei Afonso Henriques.

 Penhas de Santa Marta, formação rochosa à margem do Douro sobre a qual foi estabelecida a cidade.Idade Antiga

A cidade foi fundada nos primórdios da Idade do Bronze, sendo posteriormente ocupada durante a Idade do Ferro pelo povo celta dos váceos, que a denominaram Ocalam. O assentamento inicial produziu-se na almendra delimitada pelo Castelo e a ladeira de Santo Ildefonso, uma localização estratégica ao tratar-se de uma meseta rochosa defendida pelo Rio Douro, na qual se edificou um castro.

A povoação manteve-se durante o Império Romano. Com efeito, foi frequentemente identificada com a importante mansio e civitas de «Ocelo Durii» (Olho do Douro). De acordo com algumas vozes, esta povoação seria a localidade atual de Villalazán, 12 km a leste, também na margem do Douro, e pela qual passava a Estrada da Prata.[1][2]

 Estátua de Viriato, na praça homónima, obra do escultor Eduardo Barrón, de Moraleja del Vino. Cântaro de cerâmica hispano-muçulmana pertencente ao conjunto encontrado no lote do Conselho Consultivo de Castela e Leão. Cerâmica polida, séculos VIII – IX, Museu de Samora.

Segundo outros estudiosos, porém, esta povoação seria efetivamente a cidade atual de Samora. Apesar de não terem aparecido até à data quaisquer restos arqueológicos correspondentes a este período, a toponímia seria um dos argumentos em defesa desta hipótese, já que «Okelo Duri» tinha como significado original penhasco proeminente (as Penhas de Santa Marta), e por outro lado, na margem oposta do rio, situa-se o bairro de San Frontis, nome de origem romano derivado de sub frontis pontis, «por debaixo da ponte». Foi precisamente nessa zona que se manteve em pé até 1310 a Ponte Velha ou de Olivares, da que ainda hoje existem restos visíveis. Além do mais, existe uma mapa tardorromano no qual aparece o termo «Okelo Duri», que corresponderia à cidade de Samora.[3] Também a esta época corresponde Viriato, o terror romanorum, que celebrava as suas vitórias sobre os romanos (oito no total), arrancando um farrapo dos seus estandartes vermelhos e colocando-o na sua lança, que é a origem da bandeira da cidade e da província, a Seña Bermeja. Atribui-se o seu local de nascimento a Torrefrades, povoado da comarca de Saiago; Portugal (Monte Herminius, na Serra da Estrela) ou à província de Huelva.

A primeira referência documental que se possui da cidade aparece no Parrochiale Suevum, de 569, nas quais é referida pelo nome de «Senimure»,[4][5] incluída na diocese de Asturica, pertencente ao Reino Suevo. Aparece da mesma forma numa cunhagem de moedas de Sisebuto no século posterior.[6] Os nomes árabes da cidade foram Azemur (olival silvestre) e Semurah (cidade das turquesas). O nome atual pode provir de uma destas últimas etapas, e é citado como tal no Salmanticense como «uma das praças recuperadas por Afonso I aos mouros». Durante a Reconquista Cristã, a cidade foi muito disputada entre árabes e cristãos.[7]

Idade Média Alta Idade Média

O período compreendido entre os séculos X e XIII é o de maior relevância para Samora dentro do contexto hispânico. A Batalha de Simancas (939) deu a Ramiro II de Leão o controlo dos vales do Douro e do Tormes, convertendo-se a capital samorana (pela sua posição vantajosa) numa das principais praças fortes que asseguravam a fronteira. A sua importância foi diminuindo a partir da Batalha das Navas de Tolosa (1212), que abriu o sul peninsular aos reinos cristãos, perdendo assim Samora a sua transcendência estratégica.

Durante a Idade Média, voltou a ser tomada e destruída pelos muçulmanos a comando do emir Mohamed, sendo depois reconquistada pelos cristãos no reinado de Afonso II das Astúrias, o Casto, sendo novamente fortificada. O rei Afonso III das Astúrias, o Magno, repovoou-a com moçárabes toledanos em 893, rodeando-a de muralhas e dotando-a inclusivamente de palácios e banhos, convertendo-se, pela sua situação e características, na cidade-fortaleza mais importante dos reinos cristãos. Samora foi descrita pelos cronistas árabes como «a capital do Reino da Galiza, rodeada de sete recintos amuralhados e grandes fossos». Foi uma das praças mais importantes do Reino de Leão, do qual formou parte. Além disso, iniciou a etapa de maior esplendor político, económico e arquitetónico. O paulatino movimento da raia para sul, do Douro ao Tormes, favoreceu tal progresso, sendo apenas quebrado pelas aceifas de Almançor. Muhammad ibn 'Abd-Allah ibn Abū 'Āmir (em árabe محمد بن عبد أبو عامر ), chamado Al-Mansūr (المنصور, Almançor), o Vitorioso, lançou em 981 um primeiro ataque contra a cidade, que foi arrasada. Em 986 decide lançar hostilidades com o rei Bermudo II, atacando Coimbra no ano seguinte (deixando-a de tal maneira que durante sete anos se manteve deserta), e dirigindo-se contra a própria cidade de Leão em 988, destruindo tudo quanto se cruzava com ele. Bermudo refugiou-se em Samora mas não pode conter o avanço do inimigo. Leão, após resistir quatro dias, foi assaltada, pilhada, incendiada e as suas muralhas destruídas. Após este acontecimento, Samora capitulou e Bermudo refugiou-se na Galiza. Em 997, a cidade voltou a sofrer as investidas do muçulmano, que no seu caminho até Santiago de Compostela arrasou de novo a cidade, juntamente com Leão e Astorga.

 Maqueta que recria o aspeto da rua Balborraz na Idade Média no Centro de Interpretação das Cidades Medievais.

Samora, a bem cercada foi assim apelidada por Fernando I de Leão, o Magno. Foi ele o encarregado de a reconstruir em 1055, repovoando-a com montanheses e muralhando-a novamente, para a ceder depois à sua filha, Dona Urraca. A sua posição privilegiada fê-la objeto de disputa entre os diversos reinos cristãos. Durante um dos cercos à cidade sucedeu um feito notável que se perpetuou no romanceiro espanhol: a morte inesperada, às mãos do nobre samorano Vellido Dolfos, do rei Sancho II quando este tentou tomar a cidade governada pela sua irmã.[7] A possibilidade de que o indutor fosse o principal beneficiado (o rei Afonso VI, que havia sido encarcerado por Sancho II, seu irmão), é a de que, segundo os cantares de gesta, teria provocado que um dos nobres castelhanos presentes no assédio, Rodrigo Díaz de Vívar, o Cid, lhe fizera jurar não ter participado na morte do seu irmão (o juramento de Santa Gadea, Burgos). Tanto o arrojo de Vellido como o atrevimento de Rodrigo passaram a ser tópicos literários e até coloquiais, bem como a bravura da cidade durante o assédio, imortalizada no refrão popular «No se ganó Zamora en una hora». No lugar no qual, segundo a tradição, foi assassinado o soberano Sancho II por Bellido Delfos, situa-se um tosco monumento rematado em cruz e denominado Cruz do Rei Dom Sancho.[8]

Outro evento de relevância para a cidade foi a conferência de paz entre Afonso VII de Leão, Castela e Galiza e D. Afonso Henriques, rei de Portugal. Como resultado, a 5 de outubro de 1143 foi reconhecida a independência do novo reino, refletida no Tratado de Samora, que marca de maneira oficial o nascimento de Portugal enquanto estado independente. Afonso VII reconheceu Afonso Henriques como monarca graças ao seu desejo de ser imperador e precisar, portanto, de reis que fossem seus vassalos, se bem que uma vez feito o reconhecimento, o monarca português seguiu uma linha de completa autonomia.

Em 1208, o rei Afonso IX de Leão outorgou à cidade de Samora um foro que incluiu aquilo que é considerado como a sua primeira delineação territorial. O termo abarcou uma área muito semelhante à atual, com a única exceção do lado ocidental, no qual se assinalam uma série de aldeias e lugares que foram posteriormente abandonados e convertidos nos atuais prados.[9]

«E estos homezianes ayan atal couto por el monte d'Aloa, por el Camín de Johán Cidiélez, e por Morales, e por Ponteyos de la Torre, e por Arcinielas, e por Vilaralvo el Mayor, e por Cubiellos, e por Sancta María de la Iniesta, e por las Manbras, e por los penedos de Congosta, e por Carrascal, que dizen Aldea de Pelay Alvo»

 Afonso IX de Leão (1208), Foro de Samora

Baixa Idade Média  Retrato imaginário de Henrique II de Castela

A importância de Samora entre as cidades da Coroa de Castela na Baixa Idade Média foi comprovada sobretudo pelo seu voto nas Cortes de Castela, condição apenas atribuída a dezassete cidades (às quais se juntou, posteriormente, Granada). A extensão da representação dos procuradores samoranos era extraordinária dado que incluía o território da Galiza, no qual nenhuma cidade tinha voto.

No início de 1367, durante a Primeira Guerra Civil Castelhana, a cidade uniu-se à causa de Pedro I de Castela,[10] convertendo-se num dos seus bastiões mais firmes durante todo o conflito.[11] Após a batalha de Montiel, em 1369, Henrique de Trastâmara assassinou o seu cunhado, Pedro I, e converteu-se em rei de Castela com o nome de Henrique II.[12][13] No entanto, após este acontecimento, os partidários de Pedro I ganharam força na cidade, o que levou a um assédio entre junho de 1369[14] e fevereiro de 1371.[10] Como líder da rebelião encontrava-se Fernando Alfonso de Valencia, um dos nobres mais proeminentes de Samora e bisneto de Afonso X e Sancho IV de Leão e Castela; e o alcaide do castelo de Samora, Alfonso López de Tejeda.[15] Numa das suas saídas, Fernando Alfonso de Valencia foi derrotado e feito prisioneiro por Pedro Fernández de Velasco, camareiro-maior do rei Henrique II e responsável pelo cerco à cidade juntamente com a rainha Juana Manuel de Villena. Apesar da resistência dos samoranos, a cidade capitulou e permitiu a entrada das tropas do monarca, que a ocuparam a 26 de fevereiro de 1371, segundo consta de uma carta de Juana Manuel ao seu esposo.

Porém, o alcaide do castelo de Samora, Alfonso López de Tejeda, não aceitou o acordo de capitulação e prosseguiu a sua resistência acompanhado pela sua esposa, Inés Álvarez de Sotomayor, o seu filho varão, os principais nobres samoranos e vários soldados.[14] A rainha Juana Manuel, segundo o relato de Fernão Lopes no capítulo XLI da Chronica de el-rei D. Fernando, ameaçou o alcaide da morte de três dos seus filhos caso este não se rendesse, o que veio a acabar por acontecer.[14] Graças à peste, fome e à consciência de que não iriam receber qualquer ajuda de Portugal, Alfonso López de Tejeda, acompanhado pela sua esposa, filho varão e alguns soldados, abandona o castelo levando consigo as suas chaves, refugiando-se em Portugal para daí continuar as hostilidades contra as tropas de Henrique II.[14]

Idade Moderna

Depois do seu apogeu no século XII, e conforme as fronteiras da reconquista da península pelos reis cristãos se moviam para setentrião, Samora foi perdendo a sua importância estratégica e económica.

León, Diario de. «Joyas sin valorar de la ingeniería antigua». Diario de León (em espanhol) [ligação inativa] «Todos los caminos no llevan a Mérida - La Opinión de Zamora». www.laopiniondezamora.es. La Opinión de Zamora. Consultado em 28 de agosto de 2017  «Zamora romana - La Opinión de Zamora». www.laopiniondezamora.es. La Opinión de Zamora. Consultado em 28 de agosto de 2017  Vazquez, L Cortes (1952). «Un problema de toponimia española: el nombre de Zamora» (PDF). Zephyrus: Revista de prehistoria y arqueología (3): 65-74. ISSN 0514-7336  Alvaro Galmés de Fuentes (2000). Los topónimos: sus blasones y trofeos (la toponimia mítica). [S.l.]: Real Academia de la Historia. pp. 13–. ISBN 978-84-89512-79-5  Lorenzo Arribas, José Miguel (26 de outubro de 2006). «Zamora por una vaca». Centro Virtual Cervantes. Instituto Cervantes. Consultado em 28 de agosto de 2017  a b PUBLISHING, DK (1 de janeiro de 2002). Guia visual Folha de S.Paulo: Espanha. [S.l.]: Folha da Manha. ISBN 9788574021775  «CATÁLOGO ARQUITECTÓNICO. Revisión del PLAN GENERAL DE ORDENACIÓN URBANA DE ZAMORA para su adaptación al Reglamento de Urbanismo de Castilla y León» (PDF). INSTITUTO UNIVERSITARIO DE URBANÍSTICA. Excmo. Ayuntamiento de Zamora  Ferrero Ferrero, Florián (1994). «Jurisdicción municipal y poder eclesiástico en la Zamora medieval» (PDF). Revista Espacio, Tiempo y Forma. Serie III. Historia Medieval (7): 121–158  a b Valdeón Baruque, Julio (1996). Enrique II (1369-1379). Col: Serie Reyes de Castilla y León. Volumen VII de la Colección Corona de España 1ª ed. Palência: Diputación Provincial de Palencia; Editorial La Olmeda S. L. ISBN 978-84-8173-051-7  Castrillo Llamas, María Concepción. La tenencia de fortalezas en la Corona de Castilla durante la Baja Edad Media (relaciones de poder entre monarquía, nobleza y ciudades) Siglos XIII-XV (PDF). III. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. ISBN 9781413506907  López de Ayala, Pero; Zurita, Jerónimo; Llaguno y Amírola, Eugenio de (1779). Crónicas de los reyes de Castilla Don Pedro, Don Enrique II, Don Juan I y Don Enrique III. Madrid: Imprenta de Don Antonio de Sancha. OCLC 457585252  Fernández Duro, Cesáreo (1882). Memorias históricas de la ciudad de Zamora, su provincia y su obispado. Madrid: Establecimiento tipográfico de los sucesores de Rivadeneyra, impresores de la Real Casa. OCLC 6945903  a b c d Álvarez Martínez, Ursicino (1889). Historia general civil y eclesiástica de la provincia de Zamora 1.ª ed. Samora: Establecimiento tipográfico de «La Seña Bermeja». OCLC 491645298  Vidania, Diego Vincencio (1696). Al rey nuestro señor D. Francisco de Benavides, Dávila, Corella, y de la Cueva, IV del nombre... Nápoles: Dominico Antonio Parrino; Miguel Luis Mucio. OCLC 319749634 
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