Tiahuanaco
( Tiauanaco )Tiauanaco ou Tiwanaku (em castelhano: Tiahuanaco ou Tiahuanacu) é um sítio arqueológico pré-colombiano no oeste da Bolívia, perto do lago Titicaca, e um dos maiores sítios arqueológicos da América do Sul. Os restos de superfície atualmente cobrem cerca de 4 quilômetros quadrados e incluem cerâmicas decoradas, estruturas monumentais e blocos megalíticos. A população do local provavelmente atingiu o pico por volta do ano 800, com uma população entre 10 mil e 20 mil pessoas.
O local foi registrado pela primeira vez na história escrita em 1549 pelo conquistador espanhol Pedro Cieza de León enquanto procurava pela capital inca do sul, Qullasuyu.
O cronista jesuíta Bernabé Cobo relatou que o nome de Tiauanaco já foi taypiqala, que em aimará significa "pedra no centro", aludindo à crença de que ela ficava no centro do mundo. O nome pelo qual Tiauanaco era conhecida por seus habitantes originais pode ter se perdido, pois...Ler mais
Tiauanaco ou Tiwanaku (em castelhano: Tiahuanaco ou Tiahuanacu) é um sítio arqueológico pré-colombiano no oeste da Bolívia, perto do lago Titicaca, e um dos maiores sítios arqueológicos da América do Sul. Os restos de superfície atualmente cobrem cerca de 4 quilômetros quadrados e incluem cerâmicas decoradas, estruturas monumentais e blocos megalíticos. A população do local provavelmente atingiu o pico por volta do ano 800, com uma população entre 10 mil e 20 mil pessoas.
O local foi registrado pela primeira vez na história escrita em 1549 pelo conquistador espanhol Pedro Cieza de León enquanto procurava pela capital inca do sul, Qullasuyu.
O cronista jesuíta Bernabé Cobo relatou que o nome de Tiauanaco já foi taypiqala, que em aimará significa "pedra no centro", aludindo à crença de que ela ficava no centro do mundo. O nome pelo qual Tiauanaco era conhecida por seus habitantes originais pode ter se perdido, pois eles não tinham linguagem escrita. Heggarty e Beresford-Jones sugerem que é mais provável que a língua puquina tenha sido a língua do povo de Tiauanaco.
A idade do local foi significativamente aprimorada no último século. De 1910 a 1945, Arthur Posnansky afirmou que o local tinha entre 11 mil e 17 mil anos[1][2] com base em comparações com eras geológicas e arqueoastronomia. A partir da década de 1970, Carlos Ponce Sanginés propôs que o local foi ocupado pela primeira vez por volta de 1580 a.C.,[3] a data de radiocarbono mais antiga do local. Esta data ainda é vista em algumas publicações e museus da Bolívia. Desde a década de 1980, no entanto, os pesquisadores passaram a reconhecer que esta datação não era confiável, levando ao consenso de que o local não é mais antigo do que 200 a.C. ou 300 a.C..[4][5][6] Mais recentemente, uma avaliação estatística de datas confiáveis de radiocarbono estima que o local foi fundado por volta do ano 110 (50-170, 68% de probabilidade),[7] uma data apoiada pela falta de estilos de cerâmica de períodos anteriores.[8]
A área da civilização Tiwanaku (em azul)A área ao redor de Tiwanaku pode ter sido habitada já desde 1500 a.C. como uma pequena vila agrícola.[9] A localização de Tiwanaku entre o lago e o planalto seco fornecia recursos fundamentais como peixes, pássaros selvagens, plantas e pastagens para camelídeos, em especial lhamas.[10] A bacia hidrográfica do Titicaca é a região mais fértil da área, com chuvas certas e abundantes, que a cultura de Tiwanaku aprendeu a utilizar na agricultura. Se deslocando para leste, o altiplano torna-se uma região extremamente árida.[11] A alta altitude da bacia do Titicaca exigiu o desenvolvimento de uma técnica própria de cultivo conhecida como "monte de cultivo" (suka kollu), composta por plataformas elevadas de cultivo intercaladas por canais, que previne problemas de falta de drenagem, inundações e geadas.[12] Essa técnica era aplicada em uma percentagem significativa da agricultura na região, juntamente com as técnicas de campo irrigado, pastos, terraço e agricultura de qocha (lagos artificiais).[13]
Montes de plantação artificialmente levantados são separados por canais rasos preenchidos com água. Os canais fornecem umidade para as culturas em crescimento, mas também absorvem calor da radiação solar durante o dia. Esse calor, então, é emitido gradualmente durante as severas noites frias que sempre produzem geada e que são endêmicas da região, propiciando insolação térmica. Traços de manejo da paisagem também foram encontrados na Planície Beniana.[14] Através de uma agricultura intensiva, os suka kollu produzem colheitas impressionantes. Enquanto a agricultura tradicional da região produz 2,4 toneladas de batata por hectare, e a agricultura moderna (com fertilizantes artificiais e pesticidas) produz 14,5 toneladas por hectare, a agricultura de suka kollu produz, em média, 21 toneladas por hectare.[13]
Conforme a população cresceu, nichos ocupacionais foram criados de modo que cada membro da sociedade sabia realizar um ofício e confiava na elite do império para suprir todas as necessidades da população. Havia uma estratificação hierárquica dentro do império.[15] A elite de Tiwanaku vivia dentro de quatro muralhas que eram circundadas por um fosso. Segundo alguns, o fosso visava a criar uma imagem de uma "ilha sagrada". Dentro das muralhas, existiam muitas imagens de origem humana que eram privilégio da elite, embora as imagens representassem o início de toda a espécie humana. A população pode ter entrado nesses recintos apenas para propósitos cerimoniais, pois eles abrigavam o santuário mais sagrado.[13]
A cidade e seus habitantes não deixaram história escrita, e a população local atual pouco conhece da cidade e de sua história. Uma teoria baseada na arqueologia propõe que, por volta do ano 400, Tiwanaku, de uma força dominante local, passou a ser a um estado predatório. A cidade, então, teria expandido seus domínios até a região dos Andes orientais (Yunga), disseminando sua cultura e estilo de vida pelas regiões atualmente ocupadas pelo Peru, Bolívia e Chile. Tiwanaku, entretanto, não foi exclusivamente uma cultura violenta. A cidade também usou a política para se expandir, criando colônias, negociando tratados comerciais (que tornaram as outras culturas dependentes de Tiwanaku) e estabelecendo cultos estatais.[16] Muitas cidades foram atraídas para Tiwanaku por motivos religiosos, pois a cidade nunca deixou de ser um centro religioso. A força raramente era necessária para a expansão do império, mas, no extremo norte da bacia hidrográfica, houve resistência. Existem evidências de que as bases de algumas estátuas foram trazidas de outras culturas até Tiwanaku e posicionadas em posição de subordinação perante os deuses de Tiwanaku, de modo a demonstrar o poder de Tiwanaku sobre essas cidades.[17] Um exemplo de violência que Tiwanaku costumava praticar era a oferenda feita no alto do edifício conhecido como Akipana. Nesse local, pessoas eram mortas, dilaceradas e expostas publicamente, talvez como uma forma de dedicação aos deuses. Pesquisas mostraram que uma das vítimas foi uma pessoa não nativa da região do lago Titicaca, sugerindo que as vítimas, geralmente, não pertenciam à sociedade da região.[13]
A comunidade alcançou proporções urbanas entre os anos de 600 e 800, se tornando um importante poder regional no sul dos Andes. De acordo com estimativas iniciais, na sua máxima extensão, a cidade cobriu aproximadamente 6,5 quilômetros quadrados, e teve entre 15 000 e 30 000 habitantes.[13] Entretanto, imagens de satélite foram usadas recentemente para mapear a extensão de suka kollu fossilizado nos três vales principais de Tiwanaku, chegando-se a uma capacidade populacional estimada entre 285 000 e 1 482 000 pessoas.[18] O império continuou a crescer, absorvendo culturas mais do que as erradicando. William H. Isbell afirma que "Tiahuanaco passou por uma dramática transformação entre os anos de 600 e 700, quando estabeleceu novos padrões monumentais para sua arquitetura cívica e aumentou grandemente sua população".[19] Arqueólogos notam uma dramática adoção de cerâmicas de Tiwanaku por parte de culturas que se tornaram parte do império de Tiwanaku. Tiwanaku conquistou poder através do comércio que implementou entre todas as cidades que compunham o império.[20]
O poder das elites continuou a crescer juntamente com o excedente de recursos até aproximadamente o ano 950. Nesse momento, ocorreu uma dramática mudança no clima.[13] Ocorreu uma significativa queda de precipitação na bacia do Titicaca, sendo que alguns arqueólogos sugerem a possibilidade de ter ocorrido uma seca. Conforme as chuvas diminuíam, muitas cidades mais distantes do lago Titicaca começaram a gerar menores colheitas para as elites. Com a diminuição do excedente de comida, o poder das elites começou a diminuir. Graças à eficiência dos seus campos agrícolas elevados, a capital se tornou o último reduto de produção agrícola, mas, finalmente, até o inteligente mecanismo dos campos elevados sucumbiu ao clima. Tiwanaku desapareceu por volta do ano 1000 porque a produção de alimentos, fonte de seu poder e autoridade, secou. A terra se tornou desabitada por muitos anos.[13]
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