Heidelberger Schloss

( Castelo de Heidelberg )


O Castelo de Heidelberg ou, nas suas formas portuguesas, de Heidelberga ou de Edelberga (em alemão Heidelberger Schloss) é um palácio localizado em Heidelberg, no estado de Baden-Württemberg. É uma das mais famosas ruínas da Alemanha e símbolo da cidade.

As ruínas do conjunto, um dos mais importantes edifícios renascentistas a norte dos Alpes, erguem-se 80 metros acima da base do vale, na colina norte da Königstuhl, dominando a imagem da antiga cidade.

Em posição dominante sobre o rio Neckar, o primitivo castelo medieval adquiriu a forma actual a partir de 1544, e serviu como residência dos Príncipes Eleitores até à guerra de sucessão no Palatinado, quando foi destruído pelos soldados de Luís XIV de França, entre 1689 e 1693. Depois disso viria a ser restaurado apenas parcialmente.

Anton Praetorius escreveu neste castelo, no ano de 1595, a primeira descrição em latim do "1. Großen Fasses" (um de três enormes barris para 127 mil ...Ler mais


O Castelo de Heidelberg ou, nas suas formas portuguesas, de Heidelberga ou de Edelberga (em alemão Heidelberger Schloss) é um palácio localizado em Heidelberg, no estado de Baden-Württemberg. É uma das mais famosas ruínas da Alemanha e símbolo da cidade.

As ruínas do conjunto, um dos mais importantes edifícios renascentistas a norte dos Alpes, erguem-se 80 metros acima da base do vale, na colina norte da Königstuhl, dominando a imagem da antiga cidade.

Em posição dominante sobre o rio Neckar, o primitivo castelo medieval adquiriu a forma actual a partir de 1544, e serviu como residência dos Príncipes Eleitores até à guerra de sucessão no Palatinado, quando foi destruído pelos soldados de Luís XIV de França, entre 1689 e 1693. Depois disso viria a ser restaurado apenas parcialmente.

Anton Praetorius escreveu neste castelo, no ano de 1595, a primeira descrição em latim do "1. Großen Fasses" (um de três enormes barris para 127 mil litros de vinho).

Até a destruição Primeira menção  Primeira imagem do Castelo de Heidelberg, por Sebastian Münster.

A cidade de Heidelberg foi mencionada pela primeira vez no ano de 1147, quando Conrado de Hohenstaufen é informado, juntamente com o seu meio-irmão Frederico I do Sacro Império Romano-Germânico, da herança do pai de ambos, o duque Frederico II da Suábia, na qual cabe ao primeiro a região do Reno francónio. Em 1155, Conrado de Hohenstaufen foi feito Conde Palatino pelo seu meio-irmão, tornando-se a região conhecida por Palatinado.[1] A hipótese de Conrado ter instalado a sua sede na actual Schlossberg (colina do palácio), a chamada Jettenbühl, não pode ser provada.

O nome Jettenbühl, de acordo com a tradição de Hubertus Leodosius Thomas, um historiador e secretário de Frederico II, faz alusão a uma velha mulher chamada Jetta que ali terá vivido. Dois quilômetros acima de Schlierbach situa-se a Wolfsbrunnen (Nascente do Lobo) e do lado do Neckar, no Heiligenberg, localiza-se a Heidenloch (Cova do Gentio). A colina do palácio só recebeu o nome de Jettenbühl a partir do século XVI, sendo conhecida anteriormente por Colina dos Bovinos Jovens (Geltenpogel = Jungviehhügel).

 O Castelo de Heidelberg tal como aparece no Thesaurus Pictuarum (1559-1606). O Castelo de Heidelberg e a cidade, por Matthäus Merian.

A primeira menção a um castelo em Heidelberg ("castrum in Heidelberg cum burgo ipsius castri") surge em 1225, quando Luís I o tomou ao Bispo Heinrich von Worms como um feudo. O paço do castelo, tal como o Palatinado, pertencia aos Duques da Baviera desde 1214. A última menção a um só castelo é feito em 1294. Num outro documento de 1303 são mencionados, pela primeira vez, dois castelos:

O castelo alto, erguido na Kleinen Gaisberg, no actual Molkenkur (destruído em 1537); O castelo baixo, na Jettenbühl (a localização do palácio actual).[1]

Desta forma, os investigadores consideraram durante muito tempo que o castelo de baixo teria sido erguido entre 1294 e 1303, conclusão tirada, especialmente, pela meticulosa pesquisa efectuada, na segunda metade do século XIX, pelo gabinete de construção dos palácios (Schlossbaubüro), as quais não foram justificadas pelas ruínas de qualquer edifício datado antes do século XV. Por outro lado, graças aos recentes achados arquitectónicos e aos vestígios arqueológicos encontrados nas recentes investigações no Castelo de Heidelberg, foram descobertas sob o castelo estruturas datadas da primeira metade do século XIII. Em 1897 foi descoberta uma janela em estilo românico tardio na parede que separa o edifício do salão de vidro (Gläsernem Saalbau) do edifício de Frederico (Friedrichsbau). Em 1976, trabalhos promovidos sobre destroços de cerca de 1400 depositados no canto nordeste do edifício de Ruprecht, e a demolição da cobertura do fragmento duma janela em forma de folha de trevo, foram encontrada semelhanças com as arcadas das janelas do Burg Wildenberg. Em 1999, uma investigação arqueológica realizada em torno do edifício de Ludwig comprovou a existência duma zona de construção na área do palácio datada da primeira metade do século XIII.

Os mais antigos documentos que mencionam o Castelo de Heidelberg são:

O Thesaurus Pictuarum (1559-1606), de Marcus zum Lamm, membro do Conselho da Igreja do Palatinado; Os "Annales Academici Heidelbergenses" (iniciados em 1587), por Pithopoeus, bibliotecário e professor de Heidelberg; Os "Originum Palatinarum Commentarius" (1599), por Marquard Freher; O "Teutsche Reyssebuch" (Estrasburgo, 1632 - reeditado em 1674 como Itinerarium Germaniae), por Martin Zeiller .

Todas estas obras são, em grande parte, superficiais, não contendo nada de importante. O caso é diferente no que diz respeito à Topographia Palatinatus Rheni, de Matthäus Merian (1615), obra que descreve o Príncipe-Eleitor Luís V como uma pessoa que "começou a construir um novo castelo há mais de cem anos". A maior parte das descrições do castelo até ao século XVIII são feitas com base na informação de Merian. Tentativas para fixar a fundação do castelo num periodo anterior, descobriram que, já na época de Ruperto I (1353–1356) , havia sido erguida a famosa capela da corte na Jettenbühl.

Palácio real e prisão de papas

Quando Ruperto III se tornou Rei da Germânia, em 1400, era de tal forma pequeno que quando o monarca regressou da sua coroação teve que acampar no mosteiro dos Agostinianos, no sítio da actual Praça da Universidade. O que ele desejava era mais espaço para os seus ambientes e corte de forma a impressionar os convidados, mas também defesas adicionais que tornassem o castelo numa fortaleza.

Depois da morte de Ruprecht, ocorrida em 1410, as suas terras foram divididas pelos seus quatro filhos. O Palatinado, coração seus territórios, foi dado ao seu filho mais velho, Luís III. Luís foi o representante do imperador e o juiz supremo, e foi nessa qualidade que em 1415, de acordo com o Concílio de Constança e a mando do Imperor Sigismundo, aprisionou o deposto Antipapa João XXIII antes deste ser levado para o Burgo Eichelsheim (actual Mannheim-Lindenhof).

Numa visita a Heidelberg, em 1838, o poeta francês Victor Hugo tirou um prazer especial ao passear entre as ruínas do palácio, tendo resumido a sua história na seguinte carta:

Mas deixem-me falar do seu castelo. (Isso é absolutamente essencial e eu devia ter começado por ele). Que tempos ele tem atravessado! Ao longo de quinhentos anos tem sido vítima de tudo o que tem abalado a Europa, e agora desmorona sob o seu peso. Isto porque este Castelo de Heidelberg, a residência dos Condes do Palatinado, os quais respondiam apenas a reis, imperadores e papas e tinham demasiada importância para curvar aos seus caprichos, mas não podiam erguer a cabeça sem entrar em conflito com eles, sendo por esse motivo que, na minha opinião, o Castelo de Heidelberg sempre tomou uma certa posição de oposição ao poder. Cerca de 1300, a época da sua fundação, começou com uma analogia a Tebas; no Conde Rudolfo e no Imperador Luís, esses irmãos degenerados, teve o seu Etéocles e o seu Polinice [filhos beligerantes de Édipo]. Então, o Príncipe-Eleitor começou a crescer em poder. Em 1400, o Palatino Ruprecht II, apoiado por três príncipes-eleitores renanos, depõe o Imperador Venceslau e usurpa a sua posição; 120 anos depois, em 1519, o Conde Palatino Frederico II formou o jovem Rei Carlos I de Espanha, futuro Imperador Carlos V.[2]

Guerra Baden-Palatinado

Em 1462, no decorrer da guerra entre Baden e o Palatinado, o Eleitor Frederico I (o "Pfälzer Fritz") aprisionou no palácio Carlos I de Baden-Baden, o bispo Jorge de Metz e o Conde Ulrico V de Württemberg. Frederico manteve os prisioneiros acorrentados e alimentados com alimentos rudes até que lhe fosse pago o resgate exigido.

O marquês Carlos I teve de pagar 25.000 florins de ouro pela libertação, tendo entregue Sponheim como penhor e declarado Pforzheim como um feudo do Palatinado. O bispo de Metz teve de pagar 45.000 florins de ouro. No entanto, o aspecto mais importante foi o facto de Frederico I do Palatinado ter garantido o seu crédito como príncipe-eleitor.

Diz a lenda que Frederico fez os seus hóspedes involuntários compreender a falta de pão às refeições mandando-os olhar, através da janela, para a paisagem devastada abaixo deles. Este episódio é contado num poema, de Gustav Schwab, intitulado Das Mahl zu Heidelberg ("A Ceia de Heidelberg").

Reforma e Guerra dos Trinta Anos  O Hortus Palatinus com o Castelo de Heidelberg em segundo plano, gravura de Jacques Fouquières, 1620.

Foi durante o reinado do Conde Palatino Luís V (1508-1544) que Martinho Lutero se deslocou a Heidelberg para defender uma das suas teses (a Heidelberger Disputation), tendo prestado uma visita ao palácio, tendo sido apoiado pelo Conde do Palatinado Wolfgang, irmão de Luís V. Uma carta que envio ao seu amigo George Spalatin, datada de 18 de Maio de 1518, louva a beleza do palácio e as suas defesas.

Durante a Guerra dos Trinta Anos foram lançados pela primeira vez projécteis contra o castelo, terminando aqui, de facto, a história das construções no edifício. Os séculos seguintes trouxeram, essencialmente, destruições e reconstruções.

Em 1619, rebeliões protestantes contra o Sacro Império Romano Germânico ofereceram a coroa da Boémia a Frederico V, Eleitor Palatino, o qual a aceitou apesar das desconfianças, desencadeando a Guerra dos Trinta Anos. Depois da sua derrota na Batalha da Montanha Branca, no dia 8 de Novembro de 1620, Frederico V escapou como um foragido, tendo desmobilizado as suas tropas prematuramente, o que deixou o Palatinado indefeso contra o General Tilly, o comandante supremo da Liga Católica ao serviço do príncipe-eleitor da Baviera Maximiliano I. No dia 26 de Agosto de 1622, Tilly iniciou o seu ataque a Heidelberg, tomando a cidade a 16 de Setembro e o palácio poucos dias depois.

 Planta de localização datada de 1622.

Quando os suecos tomaram Heidelberg, no dia 5 de Maio de 1633, e abriram fogo sobre o palácio a partir da colina de Königstuhl situada por trás dele, Tilly entregou o edifício, no dia 26 do mesmo mês. No ano seguinte, as tropas do imperador tentaram recapturar o Castelo de Heidelberg, mas isso só viria a acontecer em Julho de 1635. O palácio manter-se-ia nas mãos imperiais até à assinatura da Paz de Vestfália, tratado que poria fim à Guerra dos Trinta Anos. O novo governante, Carlos I Luís, e a sua família só se mudariam para o palácio arruinado no dia 7 de Outubro de 1649.

Victor Hugo resume estes acontecimentos e os eventos seguintes desta forma:

Em 1619, Frederico V, então um homem jovem, tomou a coroa dos Reis da Boémia, contra a vontade do imperador, e em 1687, Filipe Guilherme, Conde Palatino, então um homem idoso, assumiu o título de príncipe-eleitor, contra a vontade do Rei de França. Isto causou as batalhas de Heidelberg e tributações sem fim, a Guerra dos Trinta Anos, Gustav Adolfs Ruhmesblatt e finalmente a Guerra da Grande Aliança, a missão Turennes. Todos estes terríveis eventos degradaram o palácio. Três imperadores, Luís o Bávaro, Adolfo de Nassau e Leopoldo da Áustria, montaram-lhe cerco; Pio II condenou-o; Luís XIV devastou-o.[2]

Destruição e transferência da Corte para Mannheim Guerra de Sucessão do Palatinado  Panfleto sobre a destruição do Castelo de Heidelberg, 1693.

Depois da morte de Carlos II, Eleitor Palatino, o último descendente da linhagem da Casa do Palatinado-Simmern, Luís XIV de França ordenou a rendição do título alodial a favor da Duquesa de Orleães, Isabel Carlota, Princesa Palatina, a qual ele aclamou como herdeira legítima das terras dos Simmern. Dá-se, então, início à Guerra dos Nove Anos. No dia 29 de Setembro de 1688, as tropas francesas marcharam sobre o Palatinado e, no dia 24 de Outubro, mudaram-se para Heidelberg, cidade que havia sido abandonada por Filipe Guilherme, o novo Eleitor Palatino da linhagem do Palatinado-Neuburg.

Na guerra contra os poderes aliados europeus, o Conselho de Guerra da França decidiu-se pela destruição de todas as fortificações e pela devastação do Palatinado (Brûlez le Palatinat! - "Queimem o Palatinado!"), como forma de prevenir o ataque dos inimigos a partir dessa área. Quando os franceses se retiraram do castelo, no dia 2 de Março de 1689, incendiaram-no e destruíram a fachada da grande torre. Também foram incendiadas partes da cidade, mas a misericórdia dum general francês, René de Froulay de Tessé, que disse aos habitantes para acender pequenos fogos nas suas casas de forma a criar a ilusão de estarem a arder, preveniu maiores destruições.[3]

Imediatamente depois da sua ascensão, em 1690, João Guilherme II mandou reconstruir as paredes e as torres. Quando os franceses alcançaram, uma vez mais, os portões de Heidelberg, em 1691 e 1692, as defesas da cidade estavam em tão bom estado que estes não conseguiram entrar. No dia 18 de Maio de 1693, os franceses investiram novamente sobre os portões da cidade, tendo-a tomado no dia 22 do mesmo mês. No entanto, não conseguiram controlar o castelo, pelo que destruíram a cidade numa tentativa de de enfraquecer a sua principal base de apoio. Os ocupantes do castelo capitularam no dia seguinte. Os franceses aproveitaram, então, a oportunidade para concluir o trabalho iniciado em 1689 depois da sua saída precipitada da cidade. As torres e paredes que sobreviveram à última onda de destruição foram explodidas com minas.

Transferência da Corte para Mannheim  Igreja do Espírito Santo: em tempos serviu duas congregações (Protestante e Católica) e foi o motivo da mudança da Corte para Mannheim.

Em 1697 foi assinado o Tratado de Ryswick, marcando o final da Guerra da Grande Aliança e trazendo, finalmente, paz à cidade. Foram feitos planos para demolir o castelo e reutilizar partes dele para um novo palácio a construir no vale. Quando as dificuldades com este plano se tornaram evidentes, o antigo castelo foi reformado. Ao mesmo tempo, Carlos III Filipe jogou com a ideia de redesenhar completamente o castelo, mas acabou por arquivar o projecto por falta de fundos. Em 1720 o mesmo Príncipe-eleitor entrou em conflito com os protestantes da cidade ao exigir a entrega total da Igreja do Espírito Santo aos Católicos (esta havia sido previamente dividida por uma partição e usada por ambas as congregações), mudando, então, a sua corte para Mannheim e perdendo todo o interesse no castelo. Quando, no dia 12 de Abril de 1720, anunciou a remoção da corte e de todos os corpos administrativos para Mannheim, expressou um desejo, dizendo "que cresça erva nas suas ruas".

O conflito religioso foi, provavelmente, apenas uma das razões da mudança para Mannheim. Adicionalmente, converter o ultrapassado castelo no topo da colina num palácio barroco teria sido difícil e dispendioso. Ao mudar-se para a planície, o príncipe-eleitor tornou possível a construção dum palácio que reunisse todos os seus desejos, o Schloss Mannheim.

O sucessor de Carlos Filipe, Carlos Teodoro, planeou mudar a sua Corte de volta para o Castelo de Heidelberg. No entanto, no dia 24 de Junho de 1764, um raio atingiu duas vezes o Saalbau (edifício da Corte), incendiando o castelo uma vez mais, o que ele interpretou como um sinal dos céus, tendo mudado os seus planos.

Victor Hugo, que se apaixonara pelas ruínas do castelo, também viu isso como um sinal divino:

Poder-se-ia até dizer que os próprios céus teriam intervindo. No dia 23 de Junho de 1764, o dia anterior àquele em que Carlos Teodoro estava para se mudar para o castelo e fazer dele a sua sede (o que, pela despedida, teria sido um grande desastre, porque se Carlos Teodoro tivesse passado os seus trinta anos ali, estas austeras ruínas que hoje tanto admiramos certamente teriam sido decoradas no estilo pompadour); Nesse dia, então, com os mobiliários do príncipe ainda a chegar e a esperar na Igreja do Espírito Santo, fogo do céu atingiu a torre octogonal, incendiando o telhado, e destruiu este castelo com quinhentos anos em pouquíssimas horas,[4]

Nas décadas seguintes foram feitas reparações básicas, mas o castelo permaneceu, essencialmente, como uma ruína.

Depois da destruição Lenta decadência e entusiasmo romântico  O Castelo de Heidelberg numa gravura de Carl Philipp Fohr, 1815.

Em 1777, Carlos Teodoro tornou-se governante da Baviera, além de manter igual função no Palatinado, mudando a sua corte de Mannheim para Munique. O castelo apagou-se ainda mais dos seus pensamentos e as salas que ainda tinham telhados foram ocupadas por artesãos. Já em 1767, a parede sul foi despojada de pedras destinadas à construção do Schloss Schwetzingen, uma residência estival do Eleitor e da sua corte. Em 1784, as abóbadas do Ottheinrichsbaus (Edifício de Ottheinrich) foram preenchidas e o castelo usado como fonte de materiais de construção.

Como resultado da Mediatização Germânica de 1803, Heidelberg e Mannheim tornaram-se parte de Baden. Carlos Frederico, Grão-Duque de Baden, congratulou-se com o aumento do seu território, apesar de ver o castelo como uma adição indesejável. A estrutura estava decadente e os populares haviam-se servido da pedra, madeira e ferro do castelo para construir as suas próprias casas. A estatuária e ornamentos também foram presas fáceis. August von Kotzebue expressou a sua indignação, em 1803, contra a intenção do governo de Baden de demolir as ruínas. No início do século XIX, o arruinado castelo tornou-se num símbolo para o movimento patriótico contra Napoleão Bonaparte.

 Gravura romântica do Castelo de Heidelberg (1844-1845), por William Turner.

Mesmo antes de 1800, haviam chegado artistas para ver o rio, as colinas e as ruínas do castelo como um conjunto ideal. As melhores representações são as do inglês William Turner, o qual esteve em Heidelberg várias vezes entre 1817 e 1844, tendo pintado Heidelberg e o castelo muitas vezes. Ele e outros pintores do romantismo, seus contemporâneos, não estavam interessados em retratos fiéis do edifício, pelo que deram rédea solta à liberdade artística. Por exemplo, as pinturas que Turner fez do castelo mostram-no empoleirado muito mais acima na colina do que na realidade está.

O salvador do conjunto foi Charles de Graimberg. Este conde francês enfrentou o governo de Baden, o qual via o castelo como uma "velha ruína com uma multiplicidade de insípidos ornamentos a desfazerem-se", pela preservação do edifício. Até 1822, serviu como um guarda voluntário do castelo, tendo vivido durante algum tempo no Gläserner Saalbau (Edifício do Salão de Vidro), de onde podia manter um olho sobre o pátio. Muito antes das origens da preservação histórica na Alemanha, ele foi a primeira pessoa a mostrar interesse na documentação e conservação do castelo, o que nunca acontecera com nunhum dos românticos. Graimberg pediu a Thomas A. Leger que preparasse o primeiro guia do edifício. Com as suas pinturas do castelo, das quais foram reproduzidas muitas cópias, Graimberg promoveu as ruínas do castelo e trouxe muitos turistas à cidade.

Planeamento e restauro  Plano de Julius Koch e Fritz Seitz, 1891.

A questão sobre se o castelo deveria ou não ser completamente restaurado foi discutida durante muito tempo. Em 1868 o poeta Wolfgang Müller von Königswinter defendeu uma completa reconstrução, o que provocou fortes reacções em encontros públicos e na imprensa.

Em 1883 o Grão-ducado de Baden estabeleceu um Schloßbaubüro ("gabinete de construção do castelo"), supervisionado pelo director de construção Josef Durm, em Karlsruhe, tendo Julius Koch como supervisor de construção distrital e Fritz Seitz como arquitecto. O gabinete fez um plano detalhado para preservar o principal. Esta equipa terminou o seu trabalho em 1890. O plano foi avaliado por uma comissão de especialistas de toda a Alemanha, a qual chegou à conclusão que, embora a reconstrução total ou parcial do edifício não fosse possível, era possível preservá-lo na sua condição corrente. Apenas o Friedrichsbau (Edifício de Frederico), cujos interiores foram danificados pelo fogo mas não arruinado, viria a ser restaurado. Esta reconstrução foi efectuada entre 1897 e 1900 por Carl Schäfer, com um enorme custo de 520.000 marcos.

As ruínas do castelo e o turismo

A mais antiga descrição de Heidelberg, datada de 1465, menciona que a cidade é "frequentada por estrangeiros", mas esta não se tornaria, realmente, numa atracção turística antes do início do do século XIX. O Conde Graimberg fez do castelo um objecto permanente de gravuras, as quais se tornaram em precursoras dos cartões postais. Ao mesmo tempo, também passou a ser encontrado em copas de recordação[necessário esclarecer]. O turismo recebeu um grande impulso quando Heidelberg foi ligada à rede de caminho de ferro, em 1840.

 Vista parcial das ruinas, da parte antiga de Heidelberg e da ponte antiga.

Mark Twain, o autor norte-americano, descreveu o Castelo de Heidelberg em 1880, no seu livro de viagens A Tramp Abroad:

Uma ruína deve estar correctamente situada para ser efectiva. Esta não poderia ter sido melhor colocada. Ergue-se numa elevação de comando, está encerrada em bosques verdes, não há qualquer terreno plano em volta, mas, pelo contrário, existem terraços arborizados sobre terraços, e olha-se para baixo através de folhagens brilhantes para precipícios profundos e abismos onde o crepúsculo reina e a luz do sol não pode penetrar. A natureza sabe como adornar uma ruina para conseguir o melhor efeito. Uma dessas velhas torres está partida ao meio, e uma das metades tombou para o lado. A sua inclinação encontra-se de forma a estabelecer uma atitude pitoresca. Tudo o que faltava era uma draparia adequada, e a natureza tem-na mobildado; ela tem vestido a acidentada massa de flores e verdura, e fez dela um encanto para os olhos. A metade que se mantém erguida expõe as suas arnosas salas para si, como bocas aberta sem dentes; Ali, também as trepadeiras e as flores têm feito o seu trabalho de graça. A parte traseira da torre não tem sido negligenciada, mas está vestida com uma peça de hera polida agarrada, a qual esconde as feridas e manchas do tempo. Mesmo o topo não foi deixado nu, mas é coroado com um florescente grupo de árvores e arbustosA infelicidade tem feito com esta velha torre o que por vezes faz com o carácter humano - melhorá-lo. Mark Twain[5]

No século XX, os americanos espalharam a fama de Heidelberg para fora da Europa. Desta fora, os japoneses também visitam frequentemente o castelo durante as suas viagens pelo Velho Continente. Heidelberg recebe, no início do século XXI, mais de três milhões de visitantes por ano, com cerca de 1.000.000 de pernoitas. A maior parte dos visitantes estrangeiros vêm dos EUA e do Japão. A mais importante atracção, de acordo com o Instituto Geográfico da Universidade de Heidelberg, é o castelo com os seus terraços de observação.

Alguns dos visitantes apaixonam-se pela cidade, pelo que muitos deles decidem casar no castelo. Celebram-se cerca de 100 casamentos por ano na capela do palácio.[6]

Reflexos do "Mito de Heidelberg"

O professor de Heidelberg Ludwig Giesz escreveu, no seu ensaio de 1960 intitulado "Fenomenologia dos Kitsches", sobre o significado das ruínas para o turismo:

 Parte duma gravura de Theodor Verhas, 1856.
Ruínas são o pináculo do que temos chamado de exotismo "histórico". Como um ponto de salto, pode servir de história a partir da experiência: em 1945, pouco depois da rendição da Alemanha, quando um soldado americano que tirava fotografia avidamente ao Castelo de Heidelberg me perguntou como este lugar de peregrinação para todos os românticos chegara à ruina, respondi maquiavelicamente, "foi destruido por bombas americanas". A reacção dos soldados foi muito instrutiva. Vou especular sucintamente: o choque para as suas consciências — decorrente duma estética e não dum problema ético — foi extraordinário: a "ruina" deixou de parecer bela para eles; pelo contrário, lamentaram (assim: com consciência realista presente) a recente destruição dum grande edifício.

O Professor Ludwig Giesz vai mais longe nas suas observações sobre as ruínas:

O importante crítico da cultura da era Günther Anders recordou que - ao contrário da opinião generalizada - a Era Romântica não admirou, em primeiro lugar, a vista pela beleza da ruina". Pelo contrário, teve lugar a seguinte inversão: o Renascimento (como a primeira geração) admirou o antigo Torso, "não por, mas apesar de ser um Torso". Encontraram-lhe beleza, mas "infelizmente" (!) apenas como ruina. A segunda geração inverteu a "ruina do belo" pela "beleza da ruina". E por aqui, foi clara a via para a "produção de ruinas" industrial: como gnomos de jardim agora instalados na paisagem em ordem a que esta se torne bela.[7]

Também Günter Heinemann levanta a questão sobre a forma como se poderia restaurar o conjunto incompletamente. Próximo da visão do jardim-Stück sobre o fosso dos veados (Hirschgraben) do interior das bem conservadas ruinas do castelo, perguntava-se a si próprio como era possivel que não se recuperasse toda a área novamente.

Pensa-se automaticamente que se poderia dedicar ao cuidado devotado destas enormes paredes, no caso de virem a ser construidas novamente. Quanto a despesas isso não faz muita diferença, mas como isso seria organizado! Isso iria requerer sementes das suas imaginações históricas, na medida em que as existentes imagens sonoras que têm sido transmitidas permitem isso. Mas traria o único fenómeno para Heidelberg o facto do castelo nas suas ruinosas condições ter de registar o proveito considerável em valores estéticos. Um castelo reconstruido seria equivalente a um desencanto, seria a certificação dum inadequado processo de deslocamento de história oposta, e deixaria de conceder espaço à participação da natureza. O entendimento da realização ganho em claridade, seria perdido para a mente em profundidade .[8]
Cronologia  Vista panorâmica do Castelo de Heidelberg. Vista panorâmica do Castelo de Heidelberg a partir da cidade.

Linha cronológica dos principais eventos no castelo:

1225: primeiro documento em que aparece menção a um "Castrum" em Heidelberg; 1303: menção a dois castelos; 1537: destruição do castelo de cima por um raio; 1610: criação do jardim do palácio (Hortus Palatinus); 1622: Tilly conquista a cidade e o castelo durante a Guerra dos Trinta Anos; 1649: renovação da planta do castelo; 1688/1689: destruição por tropas francesas; 1693: novas destruições durante a Guerra de Sucessão do Palatinado; 1697: início da reconstrução; 1720: transferência da residência para Mannheim; 1742: início da reconstrução; 1764: destruição por um raio; 1803: o castelo e a cidade passam a fazer parte do estado de Baden; 1810: Charles de Graimberg dedica-se à preservação das ruínas do castelo; 1860: primeira iluminação do castelo; 1883: estabelecimento do "gabinete de construção de castelos de Baden"; 1890: balanço por Julius Koch e Fritz Seitz; 1900 (cerca): restauros e desenvolvimento histórico.
a b Harry B. Davis: "What Happened in Heidelberg: From Heidelberg Man to the Present": Verlag Brausdruck GmbH, 1977, ISBN 0007C650K. a b Em Victor Hugo: Heidelberg of Frankfurt am Main. Societäts-Verlag, 2003. ISBN 3-7973-0825-6. Harry B. Davis: "What Happened in Heidelberg: From Heidelberg Man to the Present": Verlag Brausdruck GmbH, 1977, 0007C650K. Victor Hugo: Heidelberg of Frankfurt am Main. Societäts-Verlag, 2003. ISBN 3-7973-0825-6. from Mark Twain: A Tramp Abroad. A Tramp Abroad no site twain.thefreelibrary.com Casamentos em Heidelberg Em Ludwig Giesz: Der Kitsch, Tübingen: Verlag Ernst Wasmuth, 1982, ISBN 3-8030-3012-9. Em Günter Heinemann: Heidelberg, Regionalkultur Publishing, 1996, ISBN 3-924973-01-6.
Fotografias por:
ryan harvey from Portland, OR - CC BY-SA 2.0
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