Carcassonne

( Carcassona )

Carcassona (em occitano: Carcassona; em francês: Carcassonne, forma também usada em português) é uma comuna francesa do departamento de Aude na região de Occitânia. Em 2010 a comuna tinha 47 795 habitantes (densidade: 734,4 hab./km²). Em 2009, residiam na área urbana 96 420 pessoas.

A cidade situa-se numa região povoada desde o Neolítico, na planície do Aude, na encruzilhada de dois importantes eixos de circulação, usados desde a Pré-história, que ligam o Oceano Atlântico ao Mediterrâneo e o Maciço Central francês aos Pirenéus. Encontra-se 90 quilómetros a sudeste de Toulouse, 60 km a oeste de Narbona e cerca de 70 km a oeste da costa mediterrânica. É conhecida pela sua cidadela, construída c. 890–910, para defesa contra os ataques dos normandos e inscritas na lista do Património Mundial desde 1997.

A história de Carcassona está intimamente ligada á sua cidadela. Só em 1247 é que a cidade se expandiu de facto para fora da cidadela, com a criação da bastide[nt 1] Saint-Louis, primeiro núcleo da chamada cidade baixa. A sul da cidadela havia cinco castelos-fortaleza — de Termes, d'Aguilar, de Quéribus, de Peyrepertuse e de Puilaurens — conhecidos como os "cinco filhos de Carcassona" que defendiam a passagem do Languedoque contra os espanhóis e cujas ruínas ainda subsistem.

Origens  Machado de pedra polida do Neolítico em nefrita encontrado em Carcassona e atualmente no Museu de Toulouse

O local onde se situa a cidade já era habitado no Neolítico, como é atestado por objetos encontrados, dos quais o mais célebre é um machado de pedra polida em nefrita que pertenceu ao mineralogista Alexis Damour (1808–1902) e que se encontra no Museu de Toulouse.

Ali existiu desde cedo um sítio proto-histórico muito ativo situado junto ao rio Átax (o Aude), a que Plínio, o Velho se refere com o nome de "Carcasso dos Volcas Tectósagos".[1][nt 2] Esse povoado original situava-se no planalto onde passa atualmente a autoestrada A61. Por razões que se desconhecem, no século VI a.C. o povoado foi transferido para o local onde se ergue atualmente a cidadela. No fim do século II a.C. o local, povoado por Volcas Tectósagos, era já um ópido com fossos e habitações gaulesas, de que os romanos se apossaram e fortificaram em 118 a.C.

Ao romanos seguiram-se os visigodos, no século V d.C.,[2][nt 3] e os sarracenos no século VIII, que ali permaneceram durante cerca de 30 anos antes de serem rechaçados pelos francos.[4] Após a dissolução do Império Carolíngio no final do século IX, iniciou-se a época feudal, ficando Carcassona sob o domínio da família Trencavel, que governou a cidade como uma dinastia entre os séculos XI e XIII. Carcassona prosperou durante essa época e tornou-se um local estratégico de primeira importância no Languedoque.

Idade Média  A expulsão dos cátaros de Carcassona, em 1209, numa iluminura de uma versão de c. 1415 das Grandes Chroniques de France Fotografia da cidadela da autoria de Gustave Le Gray; ca. 1851, antes dos grandes trabalhos de restauro de Viollet-le-Duc

O catarismo teve muitos adeptos em Carcassona. Os cátaros foram protegidos pelo visconde Raimundo Rogério Trencavel (1185–1209), o que fez com que a cidade fosse considerada terra de heresia pelo papa e consequentemente um dos alvos da Cruzada Albigense, liderada primeiro pelo legado papal Arnaldo Amalrico e depois por Simão de Monforte. Em agosto de 1209, o exército de cruzados sitiou Carcassona. Os dois burgos caíram rapidamente, tendo sido prontamente destruídos e incendiados. As muralhas e fortificações da cidadela resistiram aos atacantes, mas Trencavel descurou a defesa dos pontos de abastecimento de água situados fora das muralhas porque acreditava que os sitiados seriam socorridos rapidamente, pelo que a sede e a fome obrigaram o visconde de Carcassona a capitular ao fim de duas semanas de cerco. Trencavel foi preso e morreu pouco depois.[5]

Após a tomada da cidadela, as terras dos Trencavel foram dadas a um dos barões do norte, o célebre Simão de Monforte. O filho deste e sucessor do viscondado de Carcassona, Amalrico VI, doou depois as suas terras ao rei de França, que as integrou no domínio real em 1224.[6] Em 1234 foi instalado na cidade um tribunal da Inquisição.Em 1240, Raimundo II Trencavel, filho de Raimundo Rogério, liderou uma tentativa de revolta dos carcassonenses, o que levou o rei São Luís a perseguir a população da cidade, que foi depois autorizada a estabelecer-se na outra margem do Aude, onde foi fundada uma nova cidade. Foi então criada uma bastide por baixo da cidadela,[7] tornando Carcassona uma cidade bicéfala onde cresceu uma rivalidade feroz entre a cidadela e a nova cidade baixa, tanto em termos sociais como em termos económicos. A bastide Saint-Louis prosperou gradualmente a ponto de ultrapassar a cidadela, que acaba por perder todo o poder e influência política.

Em 1248 a cidade baixa foi dotada de um consulado (governo municipal autónomo). A cidade passou então a ser governada por seis cônsules com a ajuda dos notáveis locais. No século XIV, a cidade era o principal centro de produção têxtil de França, que usava como matéria prima a lã proveniente dos rebanhos da Montanha Negra e do Maciço das Corbières. Os têxteis eram exportados para os grandes entrepostos comerciais da época, como Constantinopla e Alexandria.[8]

Em 1348 a peste assolou Carcassona e o resto do país pela primeira; a epidemia foi recorrente até ao século seguinte. No mesmo período, a Guerra dos Cem Anos provoca numerosos danos. O Príncipe Negro devastou a cidade baixa pelo fogo em 1355, mas poupou a cidadela, devido ao facto de que um cerco vitorioso seria muito longo e atrasaria as suas pilhagens.[9] A bastide foi parcialmente reconstruída (apenas metade) e fortificada em 1359. A indústria de tecidos de lã foi também reiniciada e desenvolveu-se. Apesar de Carcassona nunca ter sido visitada pelo rei Luís XI (r. 1461–1483), este confirmou os privilégios da cidade e não hesitou em defendê-la em março de 1462.[10][11][12]

Séculos XVI a XVIII  Porta de Aude da cidadela

A partir do início do século XVI, a cidade baixa cresceu mais do que a cidadela, que perdeu o seu papel militar. Em 1531 o protestantismo faz a sua aparição na cidade, mas os calvinistas foram perseguidos na cidade baixa, a qual viu as suas fortificações reforçadas. A cidade tornou-se uma base para os católicos, que dali dirigem ataques contra as aldeias protestantes da região, como Limoux, Bram e outras. As rivalidades crescentes entre a cidadela e a cidade baixa provocam a destruições na cidade baixa. No início da década de 1560, os protestantes de Carcassona são massacrados. Carlos IX passa na cidade durante a sua volta a França (1564–1566), acompanhado pela corte e pelos Grandes do Reino: o seu irmão duque de Anjou, Henrique de Navarra e os cardeais Carlos de Bourbon e de Lorraine.[13]

Uma passagem da «Histoire générale de Languedoc», do abade Joseph Vaissète (1685–1576) apresenta uma descrição interessante da reunião dos "Estados de Languedoque" (États de Languedoc)[nt 4][14] realizada em 1569, durante o auge das guerras religiosas no grande refeitório dos Agostinhos na cidade baixa de Carcassona, sob a presidência por ordem real de António II de Dax, bispo de Alet. O texto ilustra bem as preocupações e debates que animavam as reuniões dos Estados e atestam que a cidade ainda conservava a sua importância política no Languedoque.[15]

 Mapa de Carcassona em 1780 na Carta de Cassini

Pouco a pouco, a cidadela foi perdendo a sua importância, com a transferência de numerosas instituições para a cidade baixa em expansão. A riqueza devida ao comércio de tecidos permitiu embelezar a cidade. A manufatura de tecidos dos Saptes foi relançada em 1667 por Colbert para desenvolver a atividade iniciada pelos irmãos Saptes que se instalaram perto de Conques vindos de Tuchan no século XVI e depois em Carcassona, onde concentraram num só local todas as operações necessárias ao fabrico que tecidos, o que proporcionou uma grande prosperidade à família, cuja terceira geração abandonou a indústria para se dedicar à política.

Nesse período foram construídos vários hôtels (palácios urbanos particulares) sumptuosos, o abastecimento de água foi melhorado, as ruas foram pavimentadas e iluminadas, tornando a cidade mais moderna. As velhas muralhas da cidade baixa foram demolidas no século XVIII, na mesma época em que foi construído o Portal dosJacobinos. Contudo, a indústria de tecidos, praticamente a única atividade industrial da cidade, desaparece devido a vários problemas. Durante a Restauração, a atividade é mecanizada e os salários baixam consideravelmente, provocando a miséria dos últimos tecelões da cidade, acentuada também pela concorrência da viticultura.

A cidade envolveu-se pouco na Revolução Francesa. Em 29 de janeiro de 1790, é criado o departamento de Aude, com capital em Carcassona.[16] A concorrência da indústria têxtil britânica e a mecanização introduzida durante a Restauração fazem baixar os salários do tecelões da cidade, o que aliado ao aumento de preço dos alimentos provoca a miséria,fome e descontentamento popular na cidade.

Entre 1795 e 1800 a cidadela deixa de existir como entidade político-administrativa, sendo absorvida por Carcassona (a cidade baixa).

Séculos XIX a XXI  Vista parcial da cidadela de Carcassona

No século XIX assiste-se ao início do interesse pela preservação dos monumentos históricos e pelo restauro e valorização do património francês. A cidadela, completamente arruinada, recebe a atenção de eruditos locais como Jean-Pierre Cros-Mayrevieille, que apoiado por Prosper Mérimée, inspetor dos monumentos históricos, impulsionam trabalhos de restauração, cujo primeiro exemplo foi a Basílica de São Nazário e São Celso. Seguem-se numerosas expropriações; todas as construções nas muralhas foram suprimidas e uma parte considerável da população da cidadela foi transladada.

As obras de restauro da cidadela, alegadamente para restituir a grandeza do século XIII do maior conjunto fortificado medieval da Europa Ocidental, prolongaram-se por meio século. As obras são dirigidas com sucesso pelo arquiteto Viollet-le-Duc, especiaçista de restaurações em França, mas por vezes causam polémica devido às suas escolhas e iniciativas particulares. Embora muitos considerem que a restauração da cidadela foi em geral bem feita, somente 15% dos materiais usados são originais.

Em 1907, os viticultores carcassonenses participam na revolta dos viticultores para denunciar os problemas que afetam a viticultura do Languedoque. A fraude recorrente de certos produtores, a sobreprodução, o míldio e a concorrência provocam a cólera e pedem ao estado, que num primeiro momento não reage, que regulamente a produção vitícola. Em setembro de 1907, Carcassona adere à Confederação geral dos viticultores do Midi (CGV), a primeira união sindical francesa.[17]

Em 1944, a cidadela de Carcassona é ocupada por tropas alemãs, que usam o castelo condal como armazém de muições e explosivos e expulsam os habitantes. Joë Bousquet, comandante da Legião de Honra, indigna-se com esta ocupação e escreve uma carta ao prefeito pedindo a libertação da cidadela, considerada por todo o país uma obra de arte que se tem que respeitar e deixar livre.[18]

Em 1997 a cidadela de Carcassona foi classificada como Património Mundial pela UNESCO. Com três milhões de visitantes anualmente, é um dos locais mais visitados da Europa.


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